São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
As águas de março fecharam o bolão
MATINAS SUZUKI JR.
Meus amigos, meus inimigos, no primeiro tempo de ontem o Brasil perdeu para São Pedro. Um time técnico, mesmo em seus jogadores mais fortes (como é o caso de Zé Elias), sem condições de jogo. O gramado encharcado pelo dilúvio goianense prejudicou duplamente: a) Primeiro, porque atrapalhou o toque de bola brasileiro, como já foi citado; b) Segundo, porque as zonas que mais tinham poças eram justamente as laterais do campo de ataque do Brasil. Como Honduras estava muito fechada lá trás, as jogadas pelos flancos —como é tradicional na seleção brasileira— era a grande opção. Que ficou afogada. Acho que Zagallo está certo ao investir na teenbolada. Está de olho no Torneio Pré-Olímpico e na Olimpíada do ano que vem. Tem que ser preocupar, desde já, com a geração 96 (e com a 98 também). É o que faz Passarella na Argentina. Mesmo com o chove chuva, chove sem parar, Leandro e Zé Elias já são o futuro presente. Não sentem a camisa canarinha. E Juninho tem tudo para ser o pequeno grande homem da seleção que virá. No segundo tempo não aconteceu nada. Eram as derradeiras águas de março. E se o Túlio faz de calcanhar, ein? O Brasil tem muitas cabeças, mas falta um grande cabeceador. Já que falei no Juninho, ele fez falta ontem para o São Paulo. Que empatou com a Ponte Preta. Aliás, ontem em Campinas, a macaca andou de bike. E que bela bike. O "admirável Edmundo novo" aprontou. Foi reincidente no crime: fez os dois gols da vingança contra o Emelec. Vai ser difícil o Zagallo não convocá-lo. O excesso de partidas de futebol no Brasil não interfere somente no rendimento dos jogadores. Acaba atrapalhando também o planejamento das colunas jornalísticas sobre esportes. Há tempos pretendo, sem sucesso, registrar o relançamento do fundamental livro "O Negro no Futebol Brasileiro", ed. Firmo, do Mário Filho —aquele que só tem o nome no Maracanã. (Mário Filho também ficou mundialmente famoso por ser irmão de Nelson Rodrigues, mas isto é outra história). Como é sabido, Mário Filho é o pai da moderna crônica futebolística brasileira. "O Negro...", cuja primeira versão é pré-grandes conquistas brasileira neste esporte, é um divisor de águas. Talvez seja a primeira grande tentativa de explicação socio-antropológica -e também cultural— da questão étnica no futebol brasileiro. Com uma narrativa despojada de bom dia-a-dia. Esta aí o recado. Atrasado, mas dado. Texto Anterior: Túlio desfila no 'Tuliomóvel' Próximo Texto: São Paulo fica no empate com a Ponte Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |