São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995
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Livro ainda é proibido na China

ANDRÉA FORNES
DA REDAÇÃO

Livro ainda é proibido na China
A escritora Jung Chang fala, abaixo, da proibição de "Cisnes Selvagens" pelo governo chinês e da censura rígida que controla o setor de publicações no país.
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Folha - Os chineses têm conhecimento sobre o seu livro, "Cines Selvagens"?
Jung - Alguns apenas, aqueles que têm contato com o mundo exterior. Para mim essa situação é insatisfatória, mas posso ver que é algo que demanda tempo, o que é positivo porque as melhores mudanças são graduais.
Na China, uma das áreas em que o governo exerce maior controle, áreas aliás que estão cada vez menores, é a editorial, a da liberdade de imprensa.
Os chineses desfrutam de muita liberdade atualmente, fora da área em que o controle é mesmo rígido.
Folha - Em "Cisnes Selvagens", você conta que na adolescência comprava no "mercado paralelo" autores proibidos na China. Hoje em dia há quem faça o mesmo para obter uma cópia do seu livro?
Jung - Eles podem conseguir o livro em Hong Kong ou através de amigos, que trazem um exemplar do exterior. Sei que há muitas editoras na China interessadas em "Cisnes Selvagens", mas por enquanto não têm autorização para publicar meu livro.
Folha - Além desse veto à publicação de "Cisnes Selvagens" já teve outros problemas com censura na China? Como, por exemplo, para fazer as pesquisas para a biografia de Mao?
Jung - Certamente, há restrições. Muitas pessoas com as quais eu converso têm receio de falar sobre a história do Partido Comunista, porque Mao significa o PC, e a história do Partido Comunista é um tema bastante delicado.
Essa situação dificulta o meu trabalho de pesquisa. Mas acho que os chineses estão mais confiantes e seguros porque há mais maturidade. As sociedades asiáticas, em geral, estão mais liberais.
Em "Cisnes Selvagens" eu já mencionava as mudanças no país desde o início do século, quando os pés da minha avó ainda eram amarrados para não crescerem, até o final dos anos 70.
Algumas situações descritas no livro seriam inadmissíveis hoje em dia na China.
Folha - Apesar das mudanças de que falou, a China continua guardando a mesma atitude de distanciamento em relação aos estrangeiros?
Jung - Quando falamos antes em áreas severamente controladas, como a liberdade de imprensa, deixamos de mencionar o contato com estrangeiros.
Muitas pessoas têm esse sentimento de medo ou refúgio porque sofreram demais no passado. Durante a Revolução Cultural (final da década de 60) apenas um idiota pensaria em manter contato com estrangeiros. Isso já não acontece atualmente.
Muitos chineses têm amigos estrangeiros, mas claro que eles não são como amigos chineses. Há o distanciamento porque ainda temem por isso. A verdade é que sempre existiu uma guerra, uma guerra invisível, entre chineses e estrangeiros.
Os chineses, por tradição, encaram os estrangeiros como "outsiders". É um problema mais cultural do que ideológico. Há uma certa desconfiança em relação aos estrangeiros.
(AF)

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