São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Sexo seguro não existe aqui nem na China

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Subiu o imposto da importação? Então, manda taxar correndo essa besteira importada dos EUA, o tal do "sexo seguro".
A campanha contra Aids na TV usa e abusa da expressão "sexo seguro". Cuma? Isso existe? Então, manda trazer logo um caminhão cheio, nem que seja contrabandeado do Paraguai.
Sexo seguro, faz me rir. Até parece. Quando se encontra na vertical e vestidinho da silva, o mundo inteiro jura que usa camisinha. Mas, na "hórrra do agá", como diria uma minha amiga dinamarquesa, ninguém nunca ouviu contar de homem que tope colocar camisinha sem que a gente tenha de implorar de joelhos.
O maquiar das expressões é um dos carros-chefes dessa maldição chamada politicamente correto. Na tentativa de nos distinguirmos de nossos antepassados símios, nos forçamos a chamar coxo de deficiente físico, quatro-olho de portador de deficiência visual, sapa de mulher com preferência sexual alternativa, japa de oriental, negão de afro-americano, e assim por diante. Desse rol de eufemismos nauseabundos surgiram subprodutos ainda mais surrealistas. Como, por exemplo, essa cretinice que chamam de auto-estima. O que vem a ser auto-estima, alguém sabe dizer? Mede-se com termômetro?
Que eu saiba, qualquer ser minimamente evoluído se ama e se odeia, se preserva e se destrói, tudo na mesma saladeira. Onde é que entra a auto-estima nisso?
Para ilustrar, cito exemplos palpáveis: o Fidel Castro, sabe-se, é um pavão. Mas age como aquele sujeito que cortou a poronga só para chatear a mulher. Ele tem alta ou baixa auto-estima? E o Jô Soares, outro vaidoso brilhante, mas com aquele corpão, tem alta ou baixa auto-estima?
A idéia de que a possibilidade do sexo seguro seja viável, então, é ainda mais risível. Como consumidora, nunca experimentei o produto. A garantia de uma relação afetiva sem percalços é uma noção que só cola mesmo lá em Iowa, Kansas ou sei lá onde do midwest norte-americano. Mas, entre nós, tapuias bastardos e sacanas, essa ingenuidade gringa não dá a menor liga.

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