São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Radiohead quer voltar aos anos 60

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Creep", do LP "Pablo Honey", foi uma das músicas que mais tocaram em 1993. Carregada de microfonia explosiva, a balada projetou o Radiohead em escala internacional. Agora, o grupo inglês tenta repetir o feito com o novo álbum, "The Bends", que sai na próxima semana ao Brasil.
O guitarrista e compositor Edward O'Brian falou à Folha por telefone, da Cidade do México, onde está promovendo o lançamento de "The Bends".
Como um caipira despreocupado —Radiohead vem da região de Oxford, terra de universitários e de apenas outra banda com projeção nacional, Ride—, acha tudo divertido. "Ainda prefiro sair para beber com Mark (vocalista do Ride) do que conquistar o mundo."

Folha - Por que Radiohead e Cranberries tiveram que acontecer primeiro nos EUA para chamar a atenção da imprensa de seu próprio país?
Edward O'Brian - Talvez porque nunca nos trataram como "a próxima grande coisa", como Suede, Oasis e Blur. Os americanos gostaram de nós porque nos descobriram por conta própria, sem a ajuda de nenhum "hype".
Folha - A imprensa musical britânica não sabe de nada?
O'Brian — Pode-se dizer isso. A imprensa britânica é legal para a Inglaterra, mas não faz a mínima idéia do que acontece na América ou no resto do mundo. Ela só tem influência numa ilhazinha.
Folha - O fato de estar numa grande gravadora representou algum problema para o grupo ser aceito pela imprensa britânica? Afinal, a crítica levanta a bandeira dos independentes.
O'Brian - Ser independente não representa mais nada. A maioria das bandas já assinou com "majors", inclusive as queridinhas da crítica. Mas, em 1992, quando lançamos nosso primeiro EP, que já tinha "Creep", um crítico da NME ("New Musical Express") nos disse que a música era incrível e que, se estivéssemos num selo independente, em vez de na EMI, ganharíamos a capa do jornal. Até hoje não fomos capa da NME.
Folha - A música "Creep" foi um sucesso arrepiante, mas "Pop Is Dead" (o segundo "single") nem chegou à parada. Você não receia estar numa banda de um único "hit"?
O'Brian - "Pop Is Dead" talvez não tenha sido a música certa. Mas, depois, todo mundo esperou que fôssemos fracassar. Afinal, se você olhar o retrospecto das bandas que estouram com o primeiro álbum, vai ver que elas não deram sequência à carreira.
Mas aí o disco saiu e a revista "Vox" nos colocou na capa como o novo U2. É maluco, mas faz com que percebam que não somos um fenômeno de uma única música. Além disso, se não fôssemos capazes de gravar nada melhor do que "Creep" deveríamos acabar logo com a banda.
Folha - Na música-título de "The Bends", Thom York (o vocalista) canta: "Eu gostaria que fossem os anos 60". O que há de errado com os 90?
O'Brian - Musicalmente, nada. Bandas como a gente, PJ Harvey, Massive Attack, Portished, Tricky, Blur, Elastica e Supergrass, para citar uns poucos, fazem com que a cena britânica atual seja bem diversa e saudável.
Mas havia um clima de otimismo nos 60. Os jovens achavam que podiam mudar o mundo. Os 90 são um período desanimado —sintoma das mentiras materialistas dos 80. Nunca foi tão difícil achar trabalho quanto nos 90.

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