São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Militares argentinos destruíram listas

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O ex-ministro do Interior durante o governo do general Jorge Videla, Eduardo Albano Harguindeguy, afirmou que a ditadura militar catalogou e arquivou dados de todos os presos políticos.
"Quando eu deixei o Ministério do Interior, havia uma grande quantidade de pastas com todas as investigações que se realizavam. Eram milhares de fichas", observou Harguindeguy.
O ex-ministro do Interior do governo Videla considera que essas informações devem ter sido eliminadas pelos militares. "Com segurança, estão destruídas, afirmou.
Já o ministro do Interior do governo Menem, Carlos Corach, divulga hoje uma lista de 500 desaparecidos durante a ditadura militar de 1976 a 1983.
Ele explicou que esta lista foi elaborada com base em ações judiciais dos familiares.
Esta lista terá nomes que não constam da Conadep (Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas). A Conadep foi instituída em 1983 pelo então presidente Raúl Alfonsín para apurar os mortos pelo regime militar.
Na prática, a lista que Menem divulgará hoje começou a ser elaborada nos últimos anos do governo Alfonsín (1983-1989), quando familiares informaram à Conadep que que existiam desaparecidos que não estavam na listagem de 9.000 divulgada pela comissão.
Nos últimos dez dias, o presidente Carlos Menem, o ministro da Defesa, Oscar Camillión, e o chefe da Marinha, almirante Enrique Molino Pico, se esforçaram em negar a existência de listas de desaparecidos.
Menem tornou público decreto reservado do ex-presidente Reynaldo Bignone (1982-1983) ordenando a destruição dos informes militares sobre os presos políticos.
A polêmica sobre a lista de desaparecidos foi criada recentemente por declarações do capitão-de-corveta reformado Adolfo Scilingo.
Ele reconheceu publicamente ter participado de operações militares em que presos políticos eram jogados vivos de aviões da Marinha, depois de passarem pela Esma (Escola de Mecânica da Armada).
"Não me arrependo de meus atos, mas como vou negar que se cometeram aberrações? Mas precisamos começar a aceitar que também ocorreram dos dois lados", disse Harguindeguy.

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