São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Não à fracassomania, não ao catastrofismo"

Este foi o discurso de Fernando Henrique no encerramento do encontro com os governadores:
Senhores Governadores,
Senhores Ministros
Senhores Parlamentares,
Senhor Prefeito de Paraopebas, cidade hospedeira,
Senhoras e Senhores,
Mais uma vez quero deixar claro o meu compromisso com a Amazônia. Nós acabamos de ouvir a leitura de um documento que expressa um sentimento novo daqueles que governam a Amazônia, dos vários Estados da Amazônia.
Pode parecer que é uma coisa simples, mas nós, que temos um trato mais antigo com a política e com a história, sabemos que é muito difícil uma convergência, uma convergência de vontades, de vontades de pessoas que expressam o povo de suas regiões, porque foram legitimamente eleitos, que ocupam um território de milhões de quilômetros quadrados, metade do Brasil, que, em termos comparativos, é uma Europa, mais que uma Europa, que, em termos de problema, pareceria ser que se diversificariam muito -não é tanto assim.
E que, não obstante, (...) a vastidão dos problemas, (...) peso de uma herança política e cultural que talvez dificultasse as aproximações, que talvez dificultasse até ter uma visão mais afinada com os sentimentos do mundo, no que diz respeito às bases de sustentação de desenvolvimento amazônico. Não obstante tudo isso, convergiram.
Mas como convergiram os senhores governadores? Pelo tom das vozes. Não se viu diferença que clamasse por partidos, não porque não sejam fiéis aos seus partidos, mas porque são mais fiéis às necessidades do seu povo.
Nós os ouvimos e vimos até uma certa repetição de alguns temas. Esses temas estão hoje sintetizados nessa carta que me é entregue.
Chegou o tempo. Chegou a hora. Porque amadurecer a região, não porque o governo central deseje -também deseja. Acho que é amadurecer a região para que juntos possamos definir efetivamente os rumos do crescimento econômico da Amazônia em bases sustentáveis.
Eu quero agradecer, mas concretamente. Nós temos que viver em meio ao catastrofismo que eu chamei noutro momento de "fracassomania", que impede que nós divisemos um horizonte que está ao alcance das nossas possibilidades. Nós temos que ser mais conscientes do que nós podemos. E nós podemos muita coisa. Talvez ninguém mais do que o presidente da República, principalmente porque foi ministro da Fazenda, saiba as carências orçamentárias, das dificuldades da falta de recursos.
Mas isso não pode servir de desculpa para a inação. Pelo contrário. Nós temos que ter uma posição mais afirmativa e acreditar que nós poderíamos fazer coisas muito importantes e concretas para o povo do nosso país, se nós temos hoje o apoio para fazê-lo.
O governador Raupp disse, de forma eloquente, que eu tenho uma responsabilidade: a de ter iniciado um processo de estabilização (...) mas nós vemos tantos, mesmo que eles possam se concretizar e seus efeitos possam realmente florescer, há muita coisa que pode ser feita.
Eu ouvi com atenção, o que disseram os governadores. Aquilo que eu intencionei, no início das nossas exposições, das nossas exposições -ou seja-, de que a questão regional hoje não é mais uma questão local, é uma questão nacional, foi dito e redito por muitos dos governadores, inclusive pelo governador Siqueira Campos, que foi o último a falar aqui.
Foi tudo com toda a tranquilidade, porque é verdade que é assim; digo mais, só não existe hoje um período de desenvolvimento, nem sequer a idéia de pólo de desenvolvimento. A questão hoje é outra (...) o desenvolvimento, há que tomar ações naquelas áreas que têm a capacidade estratégica de viabilizar outras áreas. O exemplo foi dado aqui por vários dos governadores que falaram, que mostraram que alguns investimentos, que efeito multiplicador e que eles ultrapassam o Estado, às vezes até mesmo a região, mesmo a região do tamanho de Amazônica,
Nós temos que nos organizar para enfrentar estes problemas e colocar o melhor dos nossos esforços nesses eixos. O Acre, do governador Orleir, precisa de (...) e de saídas para a sua produção, é uma constante para aquele que vive no Acre ou na Rondônia, há referência, há necessidade de uma saída para o Pacífico, não porque queiram qualquer outra coisa diferente, porque nós todos queremos comerciar. Como expansão do Brasil, é um desafogo para a produção e é o ponto de entrada também para as importações.
No momento adequado, o governo tomará a decisão pertinente sobre essa matéria. Quando o governo dispuser dos elementos de custo e benefício, escolherei, da mesma forma que como eu ouvi o governador Capiberibe, com os documentos que havia lido anteriormente, expor aqui com a necessária veemência conte objetividade, quem dirige um Estado cuja capital -a expressão é dele- é uma grande favela, eu não a conheço, espero conhecer. Mas chamou a atenção, como outros mencionaram -outros governadores- para aquilo que deve ser realmente o fundamental, não basta a grande obra, ela é importante: nós estamos aqui dentro de uma delas, que é Carajás, ela consegue ao seu âmbito, resolver problemas sociais, mas há problemas de pobreza, há bolsões de miséria que endurecem, que enriquecem, o que requer uma ação direta.
Eu espero que agora em Manaus, esteja presente conosco a Secretaria de Programa de Comunidade Solidária. Secretaria Executiva (...) e que ela nos ajude a definir, aqui na Amazônia, quais são as áreas fundamentais que, independentemente dos problemas normais do governo, sociais, vão requerer um problema específico, para minorar as dificuldades. Não há dificuldade que não se resolva, algum governador já disse aqui, que a solução para esses problemas depende também de uma política social mais ativa, dentro de muito pouco tempo, o ministro da Saúde, doutor Jatene, que nasceu no Acre, no Xapori, vai expor à Nação o seu programa que terá o apoio direto do presidente da República, do Programa de Comunidade Solidária, que vai girar em torno de um problema, um só problema, que é a mortalidade infantil, porque a mortalidade infantil pode ser medida, o desempenho pode ser acompanhado pelo país, assim como hoje nós estamos discutindo entre governadores diante de toda a imprensa, eu sei que o presidente precisava saber de antemão o que vai dizer esse ou aquele, porque na democracia é assim, nós vamos também diante de todo o país ver se estamos ou não progredindo na luta contra mortalidade infantil. Por que a mortalidade infantil? Vamos progredir, mas por que a mortalidade infantil? Porque, para combater a mortalidade infantil, é preciso um conjunto de programas, e na consequência da falta de saneamento básico, que aqui se mencionou, mencionaram vários governadores a questão do saneamento básico, é na questão da falta de nutrição, ela é consequência da falta de educação.
Então, quem quer combater a mortalidade infantil tem que simultaneamente atacar vários dos problemas centrais na área social e isso tem e será a marca dos nossos governos, dos Estados e da União, são pela (...), o Brasil cansou da (...), cansou, realmente cansou. O Brasil prefere uma palavra direta, simples, clara; eu não tenho, eu não posso, eu vou fazer 20, porque não posso fazer cem, porque a demagogia de fazer cem, vamos dizer sim a tudo? Só um dá mais, ninguém é (...) dar mais. Mas muitos governadores mencionaram assunto de grande importância.
O governador Amazonino Mendes, já me referi, mas refiro outra vez, chama sempre atenção pra algo que todos os demais concordam, que está expresso nesta carta e que o governador Siqueira Campos também mencionou, como eu vou entrar na (...) também e o governador Neudo Campos também. Se nós quisermos afetivamente dar um salto nos investimentos, nós vamos precisar de recursos externos e nós não obteremos esses recursos externos, do Banco Mundial, do Banco Interamericano, nas fontes baratas de financiamento, se nós não tivermos (...) do espírito de mostrar que nós somos responsáveis perante a brutalidade, para co-preservação da natureza, da cultura indígena e da população mais pobre dos nossos Estados e nós não precisamos porque de fora não tem lições, aqui dentro nós sabemos disso, só que temos que fazê-lo e proclamá-lo.
É essa a atitude nova da Amazônia, uma atitude de quem sabe o que deseja e o que deseja, nós simplesmente aqui e ali investimento, mas é mudar a condição social do povo, manter (...) uma grande medida, a nossa preocupação ambiental, a preservação da natureza, é essa atitude nova, que vai permitir que nós realmente tenhamos projetos capaz de dinamizar o futuro da Amazônia.
Um pequeno exemplo disso nós teremos agora em Manaus, na aprovação de alguns projetos do chamado G-7. Muito pouco. Precisamos de muito mais, e podemos obter muito mais. É, assim como o governador Siqueira Campos mostrou, o governador Dante de Oliveira mencionou, nós podemos, e o governo da República pode, junto com os governadores estaduais, obter mais recursos.
Ou seja, não à fracassomania, não ao catastrofismo. A pobreza existe e nós podemos combater, devemos combatê-la. As dificuldades existem, mas nós vamos superá-las. Precisamos desregionalizar a questão amazônica porque ela é uma questão nacional. Precisamos rejeitar a grande eloquência. Ou seja, discutir a fundo as questões relativas ao Orçamento. Por que não? Não adianta colocar no Orçamento e o Tesouro não pagar, porque não pode pagar. Não adianta eu dizer sim ao Congresso, para o ministro da Fazenda ter a inglória tarefa de fechar na boca do cofre os recursos porque não há recursos.
Então, eu procurarei redefinir o que nós vamos fazer daqui por diante, nesses dias, o que dá para fazer já este ano. E o que nós dissermos que dá (...) é para fazer, para o povo entender melhor o parlamentar, quando esse parlamentar, ao invés de dizer: "coloquei tantos mil reais no Orçamento para fazer tal obra..." Eles já sabiam que não viria a obra, ele dizendo: "eu não coloquei nada, porque eu estou ajudando uma outra obra que tem transcendência", e como aqui vários governadores fizeram -e me refiro ao que disse o Governador Almir Gabriel, que citou quatro exemplos, e disse: "aqui nós estamos todos juntos para conseguir isto, isto e isto, porque aí tem um efeito multiplicador maior do que pulverizar recursos".
Eu tenho certeza de que o eleitor entende isso muito mais do que um esforço enorme para colocar no Orçamento e depois o ministro da Fazenda não pagar ou postergar o pagamento.
Nós temos recursos. Nós temos recursos e só para o ano de 95 existem recursos da seguinte ordem, que não são extraordinários, entre o que as empresas estatais podem investir e reinvestir o que está no orçamento há 1 bilhão de reais; nós temos, em função das renúncias fiscais, 1 bilhão e 600 milhões de reais; o BNDES tem mais 1 bilhão de reais. São 3,6 bilhões de reais. Não é muito, mas dá para fazer alguma coisa.
Muito disso não é dinheiro que não esteja já sendo esperado, não é para iniciativa nova, mas é recurso que está sendo posto. Vamos ver entre nós, com toda a franqueza, esses 5 bilhões de reais, o que estamos fazendo com eles, porque alguma coisa estamos fazendo. Mas, o que podemos fazer mais com eles? Com franqueza aqui. E vamos dividir também, porque não é justo fazer tudo num Estado e não fazer no outro Estado.
Vamos fazer de uma maneira equitativa. E se o presidente da República ficar em Brasília, ele naturalmente vai sofrer uma pressão de um e de outro, até às vezes por maior facilidade de ligação pessoal ou por pressão partidária. Legítimas as duas, mas é mais legítimo fazer como nós estamos fazendo aqui: cartas na mesa. Cartas na mesa e ver entre nós o que nós vamos fazer.
São 5 bilhões de reais que nós temos que, de alguma maneira, fazer uma (...) mais adequada. Nós estamos abrindo um caminho novo na cooperação de fomento, para captar novos recursos. Me custou mais de um ano conseguir aprovação do Banco Central disso, mais de um ano. Conseguir a sensibilidade para... Meu Deus, é preciso que o Brasil se junte à (...) porque nós temos mais recursos, e há recursos para programas integradores.
É difícil no dia-a-dia mudar a cultura, a cabeça das pessoas. Não que sejam contra, mas têm dúvida, "é rotina, isso é novo. Para que vem mais essa? Já não tem obra (...) que não-sei-o-que". Não se diz isso. Ao presidente se diz sempre sim, mas não se faz. Só que eu vou cobrar, e vamos fazer. Porque é preciso mudar essa atitude de acomodação.
Nós podemos fazer alguma coisa em ciência e tecnologia. Nós podemos, nós faremos. Amanhã ou depois de amanhã, em Manaus, o ministro da Ciência e Tecnologia vai dizer algumas coisas que estamos pretendendo fazer em termos de biodiversidade, em termos de turismo ecológico, que há muito o que fazer. É fácil fazer, e (...) há recurso do BNDES para isso. É muito mais uma questão de organização, por uma questão de vontade política, de organização. Muito mais isso do que qualquer outra coisa.
Vamos fazer. Nós podemos e devemos apoiar a microempresa. Tem o Sebrae, tem recursos. O Orçamento tem 450 milhões de dólares, ou de reais, eu acho que são de reais, são 500 milhões de dólares. Esse dinheiro é do povo. Porque imposto pode aparecer sob a forma de outra, de benesse, mas é imposto, saiu de renúncia fiscal. Sobre ele, a determinação é que de setores empresariais, a gestão é dos setores empresariais. A ministra Dorothéa vai olhar a utilização desses recursos. São 450 milhões para a pequena e microempresas, e não é só para fazer publicidade nos jornais, não. Chega! Vamos ser para povo pobre.
Vamos fazer com que uma parcela disso seja utilizada, como tem sido feito, por exemplo em países muito mais pobres do que o Brasil, como o Bangladesh. Vamos fazer com que se faça o banco do pobre, em que uma parcela de, sei lá, 20 milhões de dólares, faz-se um limite de um empréstimo muito pequenininho, mas se faz um empréstimo solidário para cinco pessoas, que não têm como avalizar, porque não têm meios, não têm nada, nem conhecem ninguém, que se juntem entre si e que avalizem uns aos outros e que façam rotativamente isso. E, muitas vezes, emprestar na favela lá de Macapá, ou de Manaus, ou de Santarém, ou de Belém ou de Palma, ou o que seja.
Ali se vai encontrar gente capaz de criar às vezes um pequeno ofício. Não (...). É comum estarem num caminho em que não gera mais empregos pelo desenvolvimento tecnológico. Hoje não se trata só de emprego não, é ocupação, que é uma coisa um pouquinho diferente de emprego, emprego é uma coisa estável. (...). Nós temos que gerar emprego e ocupação, que muitas vezes não tem nada a ver com uma estrutura maior, mais complexa. É informal mas é daquela informalidade que a pessoa sobrevive. O governo, ao invés de estar pensando só em botar imposto no informal, tem que estar pensando em dar condições mínimas de trabalho para o informal gerar uma renda para a família sobreviver. E isso dá para fazer. Isso dá para fazer, e está aí o procedimento desses bilhões que evaporam de um dia para o outro, como pequena especulação, de meia dúzia de pessoas que não têm o mínimo de patriotismo, e que evaporam não sei quantos bilhões.
Pequenos cinquenta milhões, (..) ou quem seja, que junte aí e faça o banco do pobre. Por que não? Com essas populações ribeirinhas, eventualmente não podem ter uma embarcação mais singela, um pouco melhor, o que permite uma pesca um pouquinho melhor, e da qual eles sobrevivem. E quem vai pagar isso? Façamos sob a forma de um empréstimo dessa natureza, em que a taxa de juros não seja escorchante como é hoje.
Ações diretas, simples, de um povo simples, junto com as grandes obras estruturadoras. É dessa convergência entre um compromisso, união verbal mas direto com as pessoas, com a gente, juntamente com a ação organizada, integradora, das grandes obras, essa convergência é que nós precisamos na Amazônia, como precisamos em todo o Brasil.
Nós podemos melhorar a infra-estrutura urbana, o (...) tem recursos, nós podemos (...) dispor de 200 milhões de recursos para a Amazônia. É muito? Não é muito, mas temos. Nós temos paralisados 2 bilhões de reais, no FGTS, na Caixa Econômica, dêem-me um pouquinho de tempo para reorganizar a Caixa Econômica (...) e quando eu fui às vezes criticado, porque quis preservar certas instituições em termos técnicos. Não porque eu tenho amor à tecnocracia, que não tenho. O comando é nosso, é político, mas nós precisamos político mandar, e instruir-nos com a base técnica, para que nós possamos bem comandar. Nós estamos reestruturando a Caixa Econômica para ela voltar a ter a função social para a qual foi destinada, e aí tem recursos no FGTS para fazer a habitação, o teor da habitação hoje é outro.
Perdoem-me um certo parênteses. Eu fiquei surpreso ao ler uma pesquisa recente, diziam que nós tínhamos uma carência de 15 milhões de habitações, depois era (...), a pesquisa feita agora basta que são cinco milhões. Como é possível governar o Brasil, um país, se não se sabe se são cinco ou quinze milhões de moradias o que falta. Falta informação de base, é preciso recuperar o IBGE, como aqui (...) para que seja acurado e diga a verdade, e não fique o tempo todo discutindo só assuntos corporativos, e não fique o tempo todo querendo saber se elegeu deste ou daquele partido. Sei lá de que partido é. Que seja competente para servir ao povo, que é o que nós precisamos. E às vezes não temos.
Não será muito duzentos milhões, mas o que nós não podemos fazer é o que foi feito no passado, que os recursos foram para a classe média, classe média alta, como muitas vazes foram tão mal programados que aí estão as casas vazias, abandonadas, submetidas a invasões, e às vezes não é invasões, de tão ordinária que são na sua construção, jogar dinheiro fora é a mesma coisa que roubar, dilapidar um país pobre equivale a roubar. Nós temos que jogar aqui os recursos de forma adequada de forma correta, e muito no sentido de responsabilidade. É esse o novo Brasil, é essa a nova Amazônia, que nós estamos aqui... Tem gente que é simples, gente que é... Reparem o Governador Dante de Oliveira, ele me chamou de excelência e de tu (risos). Isso é muito bom, isso é muito bom porque nós somos assim, eu sei falar tu, porque chamo você, eu não sou da região que se usa o "tu", mas excelência está ficando mais difícil usar entre nós. Ainda bem. Nós temos é que ter ..excelência de trabalho, e não sermos chamados de "Excelência".
Mas esse novo espírito está aqui presente. O Governador Dante ..... tanto, com toda razão, da necessidade de um zoneamento econômico e ecológico. Isso é importante, regionalizar, fazer para os vários estados da amazônia, e não para o estado só, porque são vários estados que nós precisamos de ter realmente uma ação concertada. Eu lamento que a Governadora Roseana não esteja aqui, mas eu sabia que ela não podia vir, e mandou o seu representante aqui. O Maranhão é um estado extraordinário, imaginem que ele é do Nordeste e da Amazônia, é um privilégio! E tinha que estar aqui, porque ele é do Amazonas.
Mas eu também queria dizer que o Governador Siqueira Campos tem muita razão. A tese central nossa, não adianta regionalizar, se não resolver a questão do Nordeste, a Amazônia vai ter problema de pressão demográfica, e as pessoas vão pedir terra aqui, a vai querendo invadir, do ponto de vista (...) a área que tem que ser preservada por causa do meio ambiente. Temos que realmente cuidar do Nordeste, estamos cuidando. É a primeira reunião que eu faço aqui no Amazonas, mas depois eu irei para o Nordeste, com o mesmo propósito, com o mesmo estilo de trabalho, e o Ministro Krause está aqui preparando, o problema é um problema hídrico. Porque tem toda a razão o Governador Siqueira Campos, tem que dar água. Agora não é só para gerar energia não, água é para beber também, e para irrigar terras sobretudo, para dar mais emprego e mais produção. Isso dá para fazer. É só nos coordenarmos melhor.
E eu hoje eu vim aqui, com esses Ministros que aqui estão, Ministro da Indústria e Comércio, dorothéa Werneck; e do Planejamento, Dr. Calaça, porque o Ministro José Serra teve que representar o Brasil numa reunião do BID em Israel: do Meio Ambiente (...), do Ministro Gustavo Krause; Ciência e Tecnologia, Dr. Israel Vargas; dos Transportes, que é Odacir Klein; do (...) que está representado pelo Dr. (...), porque o Ministro está com problema familiar, não sei se é a mãe ou se é o pai com uma enfermidade; o Ministro da SAE, que é um Ministro representante dos Interesses Estratégicos do Brasil, e a Amazônia faz parte disso; o Secretário e o Ministro da Integração Regional, Desenvolvimento Regional, que aqui está, o Dr. Cícero Lucena. E trouxe também aqui eu trouxe e eles vieram, para minha alegria, homens muito importantes, que são o Presidente da Vale do Rio Doce, a quem já agradeci a hospitalidade, que está aqui, Dr. Luis Justino; o Dr. Renó, Presidente da Petrobrás. E outros têm sido muito solidários à compreensão dos problemas do Brasil e do desenvolvimento, (...). Porque eu ouvi muito, e com muita respeito, opiniões sobre o que fazer na amazônia. Eu ouvi, mas eu tenho talvez até idéia já formada no meu íntimo, sobre algumas outras eu preciso de mais esclarecimento.
Certamente a questão social já aflora... e vamos tomar as medidas. (...), porque o município vai ter que entrar nisso, mais do que o Governo Federal, o Estado vai ter que ajudar. Mas há algumas que são de ordem macro, usa que é a infra-estrutura de transporte de energia, isso é vital, outra é ciência e tecnologia. Outra é a preocupação cultural, o respeito ao indígena, na marcação das terras, a negociação com os posseiros. A palavra chave é democracia e negociação. Negociação é o oposto de negociata. Negociata é quando as coisas ocorrem sem a negociação, sem que se saiba, sem que explicite os argumentos. Na democracia temos que negociar, no bom sentido da negociação, ouvir as partes, fazer com que entrem em acordo. Vamos fazer isso. Dá trabalho? Ah, do trabalho, democracia dá muito trabalho. É preciso ter muita paciência e humildade, mas se não tiver paciência e humildade, não pode ser um líder da democracia.
O que é autocrata? Deus nos livre deles. Mas nós somos democratas, portanto nós somos pacientes, e nós temos que ser humildes também. Para ouvir, para ouvir os indígenas, as ONGs, por que não? Vamos ouvi-las, vamos ouvir os posseiros, vamos ouvir os proprietários de terras e vamos ouvir o Estado, o governo. Vamos ouvi-los.
Nenhuma parte, em si mesmo e por si, pode se sobrepor às demais. Agora, os direitos indígenas têm que ser respeitados, a cultua indígena tem que ser respeitada, a tradição indígena.
O governador Campos, que conhece muito melhor do que eu a região, porque é de Roraima, mostrou a distinção entre os ianomâmis e os demais povos indígenas que lá habitam.
Eu fui signatário do meu prezado amigo Severo Gomes para iniciativas iniciais de preservação dos ianomâmis e mantenho meu ponto de vista. Uma cultura como aquela é uma cultura que é uma preciosidade para a civilização; histórica par o mundo e par nós.
Mas é diferente a situação dos indígenas que já são aculturados; não tem sentido tratá-las como se não o fossem. Nem tem sentido tratar de culturar aqueles que não o são e tentar julgá-los pelos valores que não são os deles.
Isso tudo tem que ser objeto de uma reflexão construtiva, era que se preserve aquilo que é correto preservar. Mas que se dê condições de sobrevivência às populações pobres, que também precisam de tê-las. Ou não serão pobres aqueles que estão aqui hoje, por aqui perambulando, buscando um pedaço de terra, e que eu vejo que ele até quer a terra e não pode, porque tem que ser preservada, também, a natureza.
Temos que começar com eles. Que importa que os gritos deles sejam contra nós ou que a equivoquem nas suas palavras de ordem; não estão equivocados na sua demanda fundamental que é um pedaço de terra. essa tem que ser atendida, o governo tem que se mexer e fazer.
Como recordo com outros governadores, não basta desapropriar terra, é preciso assentar. E para isso é preciso ter gente capaz, de fazê-lo, não é só dinheiro não; é gente capaz de fazê-lo. E eu peço tanto aos funcionários: não briguem tanto por imotividades pseudo-ideológicas; dediquem-se a assentar quem precisa de terra, que é o que o Brasil precisa.
Eu gostaria de ouvir depois, com tantas pessoas que trouxemos aqui -mais adiante, não agora- algumas informações mais técnicas, não sobre a questão das rodovias, das hidrovias, que dessas eu creio que nós temos uma certa idéia mais concreta e podemos discutir mais quais são as que faremos já, quais as daqui há pouco.
Mas sobre a questão energética eu quero ouvir a Petrobrás sobre o urucum, o gás urucum. Eu quero ouvir o Ministério de Minas e Energia para saber qual é a alternativa melhor. Eu quero saber se realmente vale a pena fazer a união de abrangência grande que ... chega a Boa Vista, ou quem sabe termos uma outra abordagem.
Estou dizendo isso com franqueza, porque eu não vim aqui para enganar. Não tenho ainda a convicção, no meu íntimo, de qual é a solução melhor para o que todos nós desejamos que é dar energia às populações.
Mas é claro que na Transamazônica nós vamos ter que ajudar as prefeituras a cuidar das estradas; é claro que o Tocantins não podem continuar com as suas estradas abandonadas, como ainda no avião vínhamos conversando hoje.
Eu sei das limitações do orçamento, o ministro também sabe. Mas nós vamos buscar as fórmulas.
E como eu não gostaria de transformar este nosso encontro somente numa análise e talvez um reconhecimento recíproco da boa vontade que existe, uma questão eu quero deixar claro já desde hoje aqui como um sinal de que nós vamos caminhar na Amazônia de uma maneira muito consequente: nós vamos começar já, a hidrovia Tocantins-Araguaia. Tá!
É uma obra integradora, é uma obra importante para ... da região, é uma obra relativamente barata e dentro dos limites do orçamento nós encontramos os recursos para fazê-la. Isso já não é mais uma promessa, é uma decisão, uma determinação -e o ministro dos Transportes sabe disso.
E eu espero, ao terminar minhas palavras agradecendo muito vivamente a presença de todos a esse primeiro encontro, eu espero que essa marca de começar já seja só o início e que nós possamos, também, começar já muitas outras obras e sobretudo, que desde ontem, anteontem e trás anteontem, nós não esqueçamos nunca de que realmente não adianta fazer hidrovia ou rodovia se nós não tivermos realmente uma atenção muito especial para o homem e para a mulher da amazônia, aqueles que realmente precisam colher os frutos da nossa ação coordenada.
Muito obrigado.

Texto Anterior: "Chegou a hora da Amazônia", diz FHC
Próximo Texto: Maioria é pessimista, mas confia em FHC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.