São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
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Cantor malaio mistura raízes e tecnologia

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

Natural de um país multirracial, o cantor pop malaio Zainal Abidin, 36, combina em sua música elementos de sua cultura nativa, influências de países próximos como China e Índia e lembranças dos colonizadores portugueses, holandeses e ingleses.
Nem sequer a África escapa do caldeirão sonoro de "Gamal", seu segundo disco e o primeiro a chegar ao Brasil, via Warner. "Para um brasileiro é difícil identificar claramente minhas raízes, pois o Brasil também é um país multirracial. A diferença é a minha língua malaia. A percussão é muito misturada. Tenho desde influências chinesas até portuguesas", disse.
Muçulmano, como a maioria absoluta de seu país, reza cinco vezes por dia ("às vezes quatro, depende da ocasião", ressalva) e não vê qualquer obstáculo entre sua prática religiosa e sua profissão. "Se você transmite uma boa mensagem, a música é permitida na religião muçulmana. Você precisa colocar seu talento a serviço de uma boa causa", disse.
Situada entre os oceanos Pacífico e Índico, a Malásia é formada pela união de duas Malásias, separadas por 650 quilômetros de Mar da China: a Ocidental e a Oriental. Segundo Abidin, esta complexa divisão geopolítica e localização contribuíram para a diversidade de seu som, mas não são a causa das manifestações xenofóbicas contra as minorias indianas e chinesas.
"Hoje vivemos em harmonia. As comunidades não podem ser mais separadas por áreas. Todas devem estar misturadas para que as pessoas cresçam juntas e se respeitem. Esta foi uma atitude natural, não política", disse.
"Gamal" é reflexo desta avalanche de informação. Como um mantra, cria expectativas e as vai satisfazendo a cada canção, a cada audição. Nem sequer a barreira linguística é um problema. Duas ou três audições são suficientes para que você cantarole o refrão "Ini garam untuk semua/ Masin ia masinlah kita/ Lebih garam kebihkan gula/ Sakit badan mudarat tiba" com a desenvoltura de um nativo da capital Kuala Lumpur.
O refrão acima pertence a "Garam" (Sal) e diz, prosaicamente, "Este é o sal de todos nós/ Lembre-se que você é o que você come/ Assim, se você usa muito sal. muito açúcar/ Dores e doenças estarão próximas". Abidin explica. " 'Garam' é sobre a prudência. O sal pode se tornar um desastre para o seu corpo. Mas ele também dá sabor à sua comida e à sua vida. Você precisa ter cuidado e saber balancear. Todo álbum é sobre equilíbrio", disse.
Abidin canta ainda outros temas insólitos, como a velhice ("Tua") e a desilusão ("Khayalan"), mas, como é tudo em malaio, sobra muito ritmo e muita energia, o que não é nada mau.

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