São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
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"Give and take"

O sucesso das políticas econômicas depende no mundo atual mais do que nunca da obtenção de ajustes fiscais significativos. Essa quase obviedade, entretanto, encontra quase sempre resistências políticas crescentes. Um exemplo ilustrativo dessas dificuldades, porque vem do Primeiro Mundo, são os problemas do governo Clinton. O conhecido "é dando que se recebe" também tem a sua versão em inglês.
As pressões contra e a favor de um orçamento equilibrado frequentam a assessoria do
presidente dos EUA desde os tempos de campanha eleitoral. Descrições detalhadas dos conflitos internos da equipe presidencial aparecem no livro, que se tornou best seller, escrito pelo jornalista Bob Woodward, "The Agenda". É um dos jornalistas que trouxeram à luz o caso Watergate. O que eram imperativos de campanha tornaram-se utopias impraticáveis tão logo o novo presidente tomou contato com informações mais precisas sobre o estado das finanças públicas do país.
O assunto volta à baila agora que o Congresso dos EUA negocia a aprovação de dotações orçamentárias que são conhecidas pelo nome pouco recomendável de "pork". Há no meio da gordura mantida no orçamento pelos políticos desde subsídios à domesticação de cavalos selvagens no Novo México até projetos militares que na prática apenas sustentam burocracias regionais, passando por projetos de construção de moradias para pacientes com Aids. Sem falar num projeto patrocinado pelo ex-líder republicano no Senado, Bob Dole, de Kansas, dotando o Exército de alguns milhões de dólares para a compra de jatinhos de uma empresa que os produz,
no Kansas.
Seria cômico ou provinciano, não estivesse em jogo o equilíbrio orçamentário da maior potência econômica do planeta que, aliás, recomenda e monitora, direta ou indiretamente, as finanças públicas de tantos outros países.
Os Estados Unidos são hoje ao mesmo tempo a maior potência econômica e a maior fonte de desequilíbrios internacionais. Os seus gigantescos "déficits irmãos" (déficit comercial e déficit público) são o fator mais profundo que explica a incessante desvalorização do dólar no mercado mundial. Para fazer a sua própria reforma estrutural, entretanto, governo e políticos norte-americanos precisariam superar os vícios do "give and take", um imperativo que soa bastante familiar também ao sul do rio Grande.

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