São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
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Bons números para o presidente

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Pesquisa Datafolha publicada hoje sobre os três meses de governo mostra que o presidente tem motivos para sorrir: 39 em cada 100 brasileiros consideram sua gestão ótima ou boa. Faço, agora, uma afirmação que pode parecer estranha -os números revelam incompetência.
O Datafolha indica que 40% dos entrevistados optam pela classificação de regular. Traduzindo: FHC encontra algum apoio em 80% dos brasileiros. Ele transmite, porém, a sensação de estar acuado, incapaz de se comunicar com a sociedade -uma sociedade que, pelos números, está disposta a ajudá-lo.
Desarticulado, o governo dá sinais de desnorteamento e parece impressionado com
manifestações de rua produzidas em laboratório. Basta ver como manipularam inocentes velhos na discussão sobre a Previdência, usados de biombo para o baronato do serviço público, com seus fundos de pensão e aposentadorias privilegiadas.
Abre-se espaço, assim, ao crescimento de Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva, derrotados nas urnas -o que significa que suas idéias foram rechaçadas. Inútil ficar reclamando do PT e PDT; eles são oposição e se comportam como oposição.
O problema é a incapacidade de FHC e de seus ministros informarem o que estão fazendo. Vamos reconhecer: temos um ministério de bom nível, com alguns planos de inegável qualidade.
Tenho visto muita gente séria em cargos estratégicos, mexendo em áreas como saúde,
educação, direitos humanos, irrigação, telecomunicações. Mas o governo passa a impressão de estar parado, imobilizado por um Congresso com hordas fisiológicas.
Os números da pesquisa Datafolha são bons. Mas não é muita coisa. Diante da subida da inflação, queda no crescimento, embates provocados pela reforma constitucional e nova fórmula salarial, eles tendem a virar vapor.
Ainda mais se o Palácio do Planalto continuar exalando um ar de Casa da Mãe Joana -tamanha a taxa de intriga e com ministros já lançando ou preparando candidaturas num governo que mal começou.

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