São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995 |
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Crediário tem calote recorde
RODNEY VERGILI
Os números da inadimplência (atraso de pagamentos) assustam os dirigentes de financeiras, de lojas e mesmo os agiotas. A inadimplência é recorde, segundo estimativa de março da Associação Comercial de São Paulo. O número de registros recebidos pelo SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) aproximou-se em março de 200 mil consumidores, o que deve significar crescimento de 150% em relação ao mesmo mês de 1994. O novo presidente da Associação Comercial de São Paulo, Elvio Aliprandi, diz que o número reflete compras a prazo realizadas de novembro a janeiro. Para ele, a inadimplência recorde deve reduzir o ritmo de crescimento do consumo. O consumidor terá que "limpar" seu nome no SCPC antes de fazer novas compras a prazo e os comerciantes serão mais cautelosos no crediário. Aliprandi usa este argumento para dizer que um novo arrocho no consumo é desnecessário. O problema de inadimplência se agravou a partir de outubro de 1994. As financeiras tiveram menor procura pelo crediário, pois houve a limitação do prazo de financiamento para três meses. Segundo Rogério Bonfiglioli, vice-presidente da Acrefi (associação que reúne as financeiras), o prazo menor dos financiamentos provocou queda de 70% nas operações de crediário. A atividade de concessão de financiamentos passou a ser exercida por recursos próprios das lojas e outras operações paralelas. A paralisação do crediário para bens de maior valor provocou o fechamento de 1.300 das 8.300 lojas de veículos usados, segundo Avelino Teixeira, presidente da Assovesp (associação dos revendedores de veículos). O presidente da Acrefi, Alkindar de Toledo Ramos, apresentou na semana passada um relatório dos problemas do setor ao Banco Central, logo que surgiram os primeiros boatos de que o governo preparava novo aperto ao crédito. Ramos reivindicou a flexibilização dos prazos para financiamentos a setores que estão desaquecidos e que não pressionam a inflação, como carros usados, turismo doméstico e seguros. Empresas que dão garantia de pagamento de cheques em São Paulo -como a Cheque Cash- tiveram que elevar as taxas para a prestação de serviços aos lojistas, pois a inadimplência já cresceu 52% em relação ao período anterior ao Plano Real, diz Douglas Andreghetti, diretor da empresa. As devoluções de cheques se aceleraram a partir das compras do Natal, só diminuindo a partir da segunda quinzena de março. Ele acredita que, a partir de abril, as pessoas serão mais cautelosas ao comprar e tentarão recuperar seu crédito na praça. Na reunião na última sexta-feira da diretoria da Anef (a associação dos serviços financeiros da indústria automobilística), constatou-se que, de novembro de 1994 a março de 1995, o índice de inadimplência (mais de 30 dias de atraso) subiu de 3% para 6% da carteira de empréstimos, um recorde. "É um índice preocupante", diz o presidente da Anef, Russell Cook. O volume de recursos para emprestar está diminuindo. Muitos clientes não têm condições de assumir as prestações com o prazo máximo de três meses, diz Cook. LEIA MAIS sobre crédito e consumo às págs. 2-6 e 2-7. Próximo Texto: A confirmar; Dando o exemplo; No limite; Assunto intramuros; Cabe recurso; Em prospecção; Venda e perda; Linha direta; Nova linha; Conta do hotel; Vermelho do BB; Controle de qualidade; Plantio coletivo Índice |
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