São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Globo tenta atrair teens com novelas

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cheia de apanhar no terreno dos programas jovens, a Rede Globo decidiu atrair os adolescentes com o que melhor sabe fazer: novelas.
Não existe uma determinação oficial da emissora para seus autores sobre a utilização de jovens nas novelas. Mas desde o sucesso de "Top Model", de Walter Negrão e Antonio Calmon, em 89, está subentendido que a garotada é obrigatória nas tramas.
Em "A Próxima Vítima", por exemplo, há dez personagens jovens em um total de 42. O autor Silvio de Abreu admite: "temos que usá-los para haver identificação neste núcleo", diz.
Escrever sobre e para jovens é novidade para Abreu. A primeira novela em que se aventurou foi "Deus Nos Acuda" (92). "Tinha dificuldade e não gostei do resultado. Agora é mais fácil porque minha filha cresceu. Me baseio nela e em seus amigos."
O pioneiro do uso maciço de adolescentes nas novelas é o escritor e diretor Antonio Calmon. Após se destacar no cinema surfista carioca -"Menino do Rio" e "Garota Dourada"-, Calmon aportou na Globo para assinar "Armação Ilimitada", nos anos 80. Esse, aliás, foi o último acerto da rede no gênero.
Para "Top Model", Calmon transportou o universo ensolarado de seus filmes com um sucesso surpreendente. Silvio de Abreu relata o impacto que a novela teve no meio autoral: "Todos nós a assistimos com muita atenção. Tínhamos muita dificuldade em escrever sobre isso."
Calmon manteve a linha em "Vamp" e "Olho no Olho". Agora, em sua nova novela, "Cara e Coroa", nada contra a corrente. "Estou obcecado com a trama folhetinesca para o público tradicional", diz.
Ainda assim, não consegue se desvincular da juventude. "Cara e Coroa" terá 12 adolescentes, num total de 38.
Fora das novelas, a Globo tem se dado mal. Trouxe da MTV duas caras conhecidas, mas esteve longe de emplacar.
"Radical Chic", com Maria Paula, durou oito meses em 93. Para a apresentadora, "porque a Globo é careta. Está errada na concepção".
"TV Zona", com Thunderbird, foi ainda pior. Bastaram quatro programas no ano passado para liquidá-lo.
Serginho Groisman contrasta. Seu "Matéria Prima" na Cultura virou "Programa Livre" no SBT. Groisman ensina: "evito estereótipos, não levo modas em consideração, a iluminação do público e do entrevistado é a mesma e não deixo mensagens."
Cite-se também a Cultura, que inovou com a série "Confissões de Adolescente", tratando de temas como aborto.
A Globo, no entanto, vai tentar de novo. A soap opera "Malhação" trará histórias que pretendem agradar adolescentes. Em uma delas, alunas da academia trancam o professor no vestiário feminino. Para fazê-lo passar vergonha. Dá para acreditar?

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