São Paulo, quarta-feira, 5 de abril de 1995
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Polícia descobre sítio onde haveria tortura

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante Carlos da Silva, 19, forneceu ontem à Corregedoria da Polícia Militar o endereço do sítio onde afirma ter sido torturado por PMs no final de fevereiro.
O depoimento, de três horas, foi prestado no PS da Universidade de Santo Amaro (zona sul).
O depoimento foi acompanhado, a pedido da família do rapaz, pela pesquisadora Sandra Carvalho, da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos.
O estudante, que não tinha passado criminal, roubou um automóvel Verona, em Santo Amaro, no dia 25 de fevereiro. Um Gurgel da PM teria perseguido o Verona, que capotou à 1h50. Carlos afirma que se rendeu, saiu do carro com as mãos para cima, mas, mesmo assim, teria sido baleado por policiais.
Depois, afirma, foi levado para o sítio, onde teve seu pênis parcialmente esmagado com golpes de cassetete. Ele afirma também que policiais apontaram armas para sua cabeça e pisotearam seus dedos. Segundo Carlos, as torturas foram cometidas por quatro policiais militares.
Ontem soldados da Corregedoria da PM foram até o sítio, seguindo as orientações de Carlos. A reportagem da Folha esteve no local, acompanhada do irmão de Carlos.
O suposto local das torturas começa numa porteira de tijolos, que fica no número 6.460 da avenida Teotônio Vilela, na divisa de Cidade Dutra com Grajaú, no extremo sul de São Paulo.
Trata-se de um terreno cercado de ciprestes, cortado por uma estrada de cerca de 5 km, que leva até as margens da represa de Guarapiranga. O local é praticamente desabitado.
Dois moradores conversaram com a Folha. Não quiseram se identificar. Só disseram ter medo de sair de casa à noite.
Carlos da Silva sustenta que foi torturado no lugar, próximo a uma casa, na presença de quatro policiais militares e de dois civis, que, segundo ele, morariam nessa casa. Carlos diz que, depois de terem conversado com os civis, os policiais teriam afirmado: "Resolvemos que você não vai morrer, você nasceu novamente, hoje é o dia do seu aniversário".
A Folha apurou que a Corregedoria investiga suposta ligação dos PMs envolvidos no caso com civis, que ganhariam a vida repassando armas "frias" (com numeração de fábrica raspada, para evitar identificação).
Pela versão de Carlos, os policiais teriam ido até o sítio para tentar obter uma arma fria, colocá-la em suas mãos e matá-lo. Ele foi preso sem armas. "Só não me mataram porque descobriram que eu tinha marcas de algemas nos pulsos, o que daria sinal de que, antes de morrer, eu havia sido preso vivo", disse Carlos à Folha.
Ele diz que vai esperar sua recuperação física para ir pessoalmente, com a Corregedoria, fazer o reconhecimento do sítio.
A PM já abriu inquérito para apurar as denúncias de Carlos da Silva e afastou dois policiais citados por ele. A polícia vai ouvir ainda esta semana o depoimento de dois policiais apontados por Carlos como autores dos espancamentos.

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