São Paulo, quarta-feira, 5 de abril de 1995
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A Igreja troca o dogma pela razão

LUÍS NASSIF

A maior vitória política do governo até agora foi obtida justamente pelo menos político dos ministros -Clóvis Carvalho, da Casa Civil. Coube a ele a conversa franca que levou a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) a abrir mão da posição dogmática anterior, contra as reformas, aceitar a tese da inviabilidade da Previdência e se dispor a discutir cada proposta de reforma sem posições preconcebidas -uma coragem intelectual que falta à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Clóvis Carvalho tem antigas ligações com a Igreja, desde seus tempos de AP (Ação Popular). E é suficientemente despido de maquiavelismos para infundir confiança em seus interlocutores.
"A experiência de vida que tenho é que, quando se conta abertamente as coisas, ganha-se a confiança do interlocutor", explica ele. "Principalmente em temas que independem de posições ideológicas".
O que convenceu a CNBB foram dados demonstrando a inviabilização atuarial do atual modelo previdenciário. E a convicção, que transpareceu da conversa, de que o governo pretende de fato acabar com ninhos de privilégios, não com direitos legítimos.
Há outros fatores políticos mais amplos que também explicam essa mudança de posição. A julgar por este episódio, e pela postura do arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns -que se recusou a condenar sem discutir o modelo de saúde proposto pela Prefeitura de São Paulo- a Igreja parece ter-se dado conta do desgaste provocado pelo seu negativismo e pela ausência de propostas, por época da revisão constitucional do ano passado.
Além disso, está-se às vésperas de eleições na CNBB.

Os fundos sociais
Clóvis Carvalho informa que o modelo de privatização -incluindo os fundos sociais- está quase pronto. A idéia básica consiste em criar um Fundo de Investimento do Trabalhador, com gestão autônoma, incumbido de receber ações de estatais em pagamento dos créditos que têm a receber junto ao Fundo de Compensação das Variações Salariais (algo em torno de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões). Garantido este lastro, cada trabalhador poderia exercer a opção individual de transferir seu saldo para o FIT.
A dificuldade do governo tem sido convencer o Conselho Curador do FGTS a escolher uma entre duas alternativas. Se quiser compartilhar o comando, tem que compartilhar as responsabilidades. Senão, fica tudo como está.
Hoje o governo é responsável direto pelo FGTS. Se o FIT se transformar em um fundo de investimentos, a probabilidade de obter altas taxas de rentabilidade é enorme. Mas cessa a responsabilidade do governo sobre eventuais perdas.
Cabe aos representantes dos trabalhadores, agora, começar a se preparar para aceitar o desafio. Há, nas grandes centrais, pessoas com suficiente conhecimento de mercado para orientá-los nessa decisão. O que não se pode é, por covardia, não assumir essas novas responsabilidades.

Boom mundial
A decisão do Japão de abrir suas importações, visando reduzir os superávits comerciais -e, por tabela, a excessiva valorização do iene-, abre uma perspectiva extraordinária no comércio mundial, que já atravessa uma fase esplendorosa.

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