São Paulo, quarta-feira, 5 de abril de 1995
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O tema que substitui o filme

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Ensina-me a Viver" (Globo, 0h) é um desses filmes a que o tempo faz justiça. O que foi um sucesso de estima nos anos 70 chegou aos 90 em merecido esquecimento.
O sucesso correu, em grande parte, em função da história, onde um rapaz desajustado (Bud Cort) encontra uma senhora septuagenária (Ruth Gordon) que lhe faz ver o sentido da vida.
É um caso de Édipo hiperbólico. À falta de topar com uma mulher que exerça a função materna, o jovem topa com uma avó. As relações familiares convencionais (em particular com a mãe) dão motivo, segundo o filme, tanto ao caráter do rapaz quanto ao aprendizado de viver que se segue.
Daí a dar o peso que Hal Ashby dá à pedagogia, vai um pulo grande. Equivale à mercantilização de um problema real, por sua abordagem pelo prisma mais confortável, o que mais lisonjeia o público e, em vez de propor uma reflexão conjunta, vai em direção às suas feridas, trata de lambê-las.
Esse movimento bajulatório gera sucessos de tempos em tempos, como se fosse uma espécie de fatalidade: é o êxito do tema, do "assunto", de algo que começa antes do filme e termina fora dele. O que vai na tela é o que menos conta e, como aqui, investe no trivial.
(IA)

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