São Paulo, quarta-feira, 5 de abril de 1995
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Uma longa batalha

A oposição da população à proposta de extinguir a aposentadoria por tempo de serviço traz novas dificuldades à reforma previdenciária. Segundo pesquisa Datafolha publicada ontem, 77% querem a manutenção dessa modalidade de aposentadoria e apenas 18% aceitam que a concessão dos benefícios siga apenas o critério de idade.
A situação se inverte no caso da flexibilização dos monopólios do petróleo e das telecomunicações. A maioria absoluta, 58%, apóia as teses do governo. Só 26% e 27%, respectivamente, defendem a manutenção dos atuais monopólios.
Esse cenário parece repetir-se no Congresso. Os sinais de resistência à reforma da Previdência são mais intensos que as manifestações contrárias às mudanças na ordem econômica. É natural que isso ocorra.
Seja por sua maior complexidade, seja por envolver potencialmente e de modo mais direto toda a população, alterações na Previdência causam maior apreensão. É mais fácil aglutinar a oposição em torno desse tema. Assim, interesses corporativos e grupos privilegiados, entre os quais os próprios parlamentares, somam-se às dúvidas legítimas dos que temem perder os chamados direitos adquiridos.
Não enfrentar desde já os problemas, entretanto, pode implicar uma situação absolutamente insustentável no futuro. É preciso reequacionar o sistema face à progressiva redução na proporção entre contribuintes e beneficiários.
Isso não significa que as propostas do governo sejam perfeitas. O fato de não se ter verificado o esperado déficit no ano passado merece esclarecimentos mais detalhados. Ao manter a possibilidade de que os funcionários inativos da União sejam pagos com recursos da seguridade social, o governo deu argumento às dúvidas quanto à atual situação do sistema como um todo.
A aprovação da população à flexibilização dos monopólios favorece a agenda de reformas. Mas as modificações na Previdência prometem suscitar uma longa batalha. A falta de informações mais sistematizadas, o interesse de grupos privilegiados e o senso de oportunidade da oposição pesam contra as intenções do governo.

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