São Paulo, quinta-feira, 6 de abril de 1995
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Grupos revitalizam o teatro em São Paulo

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Após um longo período de culto à personalidade de diretores e atores, o teatro brasileiro mostra indícios de revalorização do teatro de grupo. Nesse panorama, as escolas de teatro despontam como celeiros de formação de novos grupos.
É o caso da Central de Produções, um núcleo teatral criado por alunos e ex-alunos da USP, Unicamp e EAD (Escola de Arte Dramática). Os 15 componentes se revezam nas funções de direção, produção e atuação. Com a peça "O Duelo", de teatro de rua, já viajaram para Minas e Rio e têm contrato com a Prefeitura de São Paulo para várias apresentações.
Outro exemplo é o Teatro Zelândia, criado por Eliseu Paranhos e outros ex-alunos da Unicamp para a área de teatro empresarial.
Após mais de um ano criando esquetes para serem apresentados em empresas, o grupo se lança no teatro convencional. Estréia em Campinas no dia 20 "Mr. Moquinpó", de Peter Weiss. O grupo já tem patrocínio para estrear em São Paulo no segundo semestre.
Também da Unicamp vem o grupo Benditos Malditos, do professor Márcio Tadeu. Ele reveza, a partir do dia 20, três peças ("Romeu e Julieta", de Shakespeare, "Werther", de Goethe, e "As Nuvens", de Aristófanes) no teatro Carlos Gomes (Santo André).
"Os trabalhos teatrais que estão hoje em maior evidência não são mais os 'mega', os globais, mas sim as formiguinhas", diz Tadeu.
Cita como exemplo Antônio Araujo, diretor de "O Livro de Jó" (em cartaz em São Paulo) e "Paraíso Perdido". Formado pela ECA (Escola de Comunicações e Artes, USP), Araujo criou o grupo Teatro da Vertigem, com alunos e ex-alunos da ECA e da EAD.
Como Araujo, Bosco Brasil saiu da ECA e constituiu, com ex-alunos da Unicamp e da USP, a companhia Teatro de Câmara, que inaugura no dia 20 um novo espaço em São Paulo com a peça "Atos e Omissões".
É o segundo texto escrito por Bosco, que ganhou o prêmio Molière de melhor autor este ano por "Budro", da mesma companhia.
Professora da Unicamp e integrante do núcleo original do Razões Inversas (leia texto ao lado), Verônica Fabrini trabalha com alunos de primeiro ano, procurando enfatizar a importância do trabalho de grupo. "É muito menos glamouroso que a grande estrela ou o diretor tirano, mas é o que faz o verdadeiro teatro", diz.
Verônica é diretora, na Unicamp, de montagens "prontas para o teste do mercado", segundo ela. Os grupos Boa Companhia e Primas & Donas procuram espaço para estrear, respectivamente, "Otelo" (de Shakespeare) e "Dorotéia" (de Nelson Rodrigues).
Também da Unicamp saiu Beatriz Azevedo, diretora de "I Love" e "Ópera Urbana Zucco", que estréia dia 8. Seu Cabaret Babel não se estabilizou ainda como grupo, mas traz, na nova montagem, Petrônio Gontijo (formado na Unicamp) e Adilson Barros (um dos fundadores do curso).
Com experiências diversas, os grupos concordam quanto à importância da universidade para o desenvolvimento de grupos teatrais.
Distantes dos heróicos e politizados grupos dos anos 60, como o Arena e o Oficina, convergem não em direção a estilos teatrais ou temáticas de riso ou tragédia, mas no reconhecimento do grupo como força vital do teatro.

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