São Paulo, quinta-feira, 6 de abril de 1995 |
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Allen Ginsberg recita suas melhores canções
MARCELO REZENDE
Cada faixa é explicada por um livro de 62 páginas, com textos de Ginsberg e ilustrado com fotos de sua coleção particular, que traz ainda depoimentos de várias pessoas que acompanharam o poeta nos últimos 35 anos, como o também poeta Lawrence Ferlinghetti e o músico Bob Dylan. "Holy" chega no rastro de "The Jack Kerouac Collection", lançada cinco anos antes, que reeditava os três discos que Kerouac gravou pela Hanover e Verve entre 1958 e 1959. Outro volume que faz parte da coleção "WorldBeat" da Rhino é "The Beat Generation", uma coletânea de canções e palestras do período de maior efervescência do movimento. Mas a caixa de Ginsberg é com certeza a melhor para entender o que se passava na cabeça dos aspirantes a artistas, no tempo em que Nova York se resumia apenas aos quarteirões do Greenwich Village. O lugar onde Ginsberg elaborou um de seus mais famosos poemas: "Howl" (Uivo, editado no Brasil pela L&PM), que aparece na caixa em sua segunda leitura pública, no Berkeley's Little Town Hall. A primeira, no dia 7 de outubro de 1955, não foi gravada. Mesmo sendo de segunda mão, o impacto é imenso. Ginsberg recita "que uivaram de joelhos no metrô e foram arrancados do telhado sacudindo genitais e manuscritos" para uma platéia que cai na gargalha por desconforto. A versão que aparece no CD, assim como em outros poemas, não é a mesma lançada em livro. Ginsberg altera a ordem das palavras ou acrescenta novas. "Para minha sorte, nessa segunda leitura várias pessoas trouxeram microfones. Apesar de que a maioria foi até lá achando que aconteceria uma festa", escreve Ginsberg. Todo o conjunto formado por "Holy Soul" tenta concretizar uma antiga ambição de seu autor. A realização de uma poesia oral, que, mais do que ser lida, necessita ser ouvida. Outra verdade mostrada por esse trabalho é a de que Ginsberg não é um poeta pertencente apenas a um determinado período ou geração. Mas um dos melhores e mais interessantes escritores americanos vivos. Em "Ashes and Blues", nome do quarto CD da caixa, o poeta recebe alguns convidados. Bob Dylan aparece tocando violão e fazendo "backing vocal" para Allen Gisnberg. Outro presença especial é a banda inglesa The Clash, em um show realizado em junho de 1981. Ginsberg aparece recitando "Capitol Air". Esse é o mais curioso dos trabalhos -quando transforma seus poemas em canções. Com direito até a um calipso para mostrar que a CIA sempre esteve envolvida no tráfico de drogas nos países mais pobres. O nome da canção? "CIA Dope Calypso". Onde encomendar: Zeitgeist Music (r. 24 de maio, 62, 3º andar, loja 456, tel. 011/263-1385) Texto Anterior: Pompéia 1895 ganha festival de bandas de garagem Próximo Texto: Cobain se une a Burroughs Índice |
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