São Paulo, quinta-feira, 6 de abril de 1995
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Allen Ginsberg recita suas melhores canções

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

A caixa "Holy Soul Jelly Roll", do poeta Allen Ginsberg, lançada no final do ano passado nos EUA pela Rhino Records, traz quatro CDs que mostram desde as primeiras versões de seus poemas, nos anos 50, recitados pelo próprio Ginsberg, até canções de 1993.
Cada faixa é explicada por um livro de 62 páginas, com textos de Ginsberg e ilustrado com fotos de sua coleção particular, que traz ainda depoimentos de várias pessoas que acompanharam o poeta nos últimos 35 anos, como o também poeta Lawrence Ferlinghetti e o músico Bob Dylan.
"Holy" chega no rastro de "The Jack Kerouac Collection", lançada cinco anos antes, que reeditava os três discos que Kerouac gravou pela Hanover e Verve entre 1958 e 1959.
Outro volume que faz parte da coleção "WorldBeat" da Rhino é "The Beat Generation", uma coletânea de canções e palestras do período de maior efervescência do movimento.
Mas a caixa de Ginsberg é com certeza a melhor para entender o que se passava na cabeça dos aspirantes a artistas, no tempo em que Nova York se resumia apenas aos quarteirões do Greenwich Village.
O lugar onde Ginsberg elaborou um de seus mais famosos poemas: "Howl" (Uivo, editado no Brasil pela L&PM), que aparece na caixa em sua segunda leitura pública, no Berkeley's Little Town Hall. A primeira, no dia 7 de outubro de 1955, não foi gravada.
Mesmo sendo de segunda mão, o impacto é imenso. Ginsberg recita "que uivaram de joelhos no metrô e foram arrancados do telhado sacudindo genitais e manuscritos" para uma platéia que cai na gargalha por desconforto.
A versão que aparece no CD, assim como em outros poemas, não é a mesma lançada em livro. Ginsberg altera a ordem das palavras ou acrescenta novas. "Para minha sorte, nessa segunda leitura várias pessoas trouxeram microfones. Apesar de que a maioria foi até lá achando que aconteceria uma festa", escreve Ginsberg.
Todo o conjunto formado por "Holy Soul" tenta concretizar uma antiga ambição de seu autor. A realização de uma poesia oral, que, mais do que ser lida, necessita ser ouvida.
Outra verdade mostrada por esse trabalho é a de que Ginsberg não é um poeta pertencente apenas a um determinado período ou geração. Mas um dos melhores e mais interessantes escritores americanos vivos.
Em "Ashes and Blues", nome do quarto CD da caixa, o poeta recebe alguns convidados. Bob Dylan aparece tocando violão e fazendo "backing vocal" para Allen Gisnberg.
Outro presença especial é a banda inglesa The Clash, em um show realizado em junho de 1981. Ginsberg aparece recitando "Capitol Air".
Esse é o mais curioso dos trabalhos -quando transforma seus poemas em canções. Com direito até a um calipso para mostrar que a CIA sempre esteve envolvida no tráfico de drogas nos países mais pobres. O nome da canção? "CIA Dope Calypso".

Onde encomendar: Zeitgeist Music (r. 24 de maio, 62, 3º andar, loja 456, tel. 011/263-1385)

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