São Paulo, quinta-feira, 6 de abril de 1995
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Ciclo traz o cinema de Mika Kaurismãki

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Ciclo: "Finlândia no Brasil - Mostra de Filmes de Mika Kaurismãki"
Onde: Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, Pinheiros, zona oeste, tel. 881-6542)
Quando: De hoje a dia 14 de abril

O nome "Finlândia no Brasil" é um pouco amplo para o que esta mostra propõe: seis filmes de Mika Kaurismãki e um de sua mulher, Pia Tikka. Mas também é verdade que, para o cinema finlandês, não está mau: Mika e seu irmão Aki são os principais responsáveis por esta cinematografia ter entrado no mapa, nos anos 80.
Uma entrada tumultuada, a julgar por um dos mais célebres filmes de Mika, "Helsinki Napoli", que passa na Sala Cinemateca hoje às 21h30. A trama se passa em Berlim, onde um finlandês (Kari Vããnãnen) mora com a mulher italiana (Roberta Manfredi).
Chofer de praça, o finlandês vê cair em sua mão uma pequena fortuna. E vê, em seu encalço, um furioso trio de gangsters, liderado por Samuel Fuller. A luta para ficar com o dinheiro e os riscos a que expõe a si e à família são o centro desta comédia de aventuras.
É um filme marcado pela época em que foi feito, no mau sentido. De um lado, o elenco é povoado de figuras emblemáticas do cinema (além de Fuller, os diretores Wim Wenders e Jim Jarmusch e o ator Eddie Constantine).
Ressente-se também dessa estética empenhada em referir-se ao cinema constantemente, em afirmar seu caráter de ficção (seja por um certo empetecamento da imagem, seja por forçar um humor com frequência artificial).
Isso, mais a ênfase na inutilidade do gesto humano (que parece vir da obra de John Huston) quase roubam o melhor do filme: o fato de ser rodado em Berlim (antes da unificação), com finlandeses, russos, italianos etc. Um caldo grosso de nomadismo cultural que é o aspecto mais profundo deste filme, no fim das contas simpático.
As coisas melhoram no documentário "Tigreiro - Um Filme que Nunca Foi Feito" (passa às 20h). Aqui, Kaurismãki (pronuncia-se Kaurisméki) volta ao lugar onde Samuel Fuller planejou filmar "Tigrero", na selva brasileira, numa aldeia dos índios carajás.
Volta com Fuller, que recorda sua expedição de 1954. Na aldeia, promovem a projeção do filme rodado pelo diretor norte-americano naquela ocasião. No mais, essa volta permite acentuar a diferença entre o que era a selva em 1954 e o que se tornou 40 anos depois. Uma diferença não raro abissal.
É um filme de grande modéstia, onde Mika consegue fazer uma homenagem ao grande cineasta e, ao mesmo tempo, voltar ao que parece ser sua preocupação principal (os gestos e esforços inúteis).
Outro filme que tem o Brasil como cena é "Amazonas" (o único que será apresentado na versão original, em inglês, sem legendas -no domingo, dia 9, às 19h30).
É uma aventura rocambolesco: após ficar viúvo, um finlandês (Vããnãnen) vem para o Brasil. É roubado, fica na tanga, torna-se motorista de um contrabandista, quase é morto pela polícia. Acaba perdido na Transamazônica, com as duas filhas, no meio da selva, em um carro sem gasolina. É salvo por um aviador. Mas a sua vida de sobrevivente em condições desconfortáveis continuará.
É um filme com belas imagens de destruição da floresta, sinal de destruição do próprio homem. Este filme de 1990 é mais consequente que "Helsinki Napoli" e coloca em evidência, ainda uma vez, o desterro, o deslocamento geográfico dos personagens. Agora, com um estilo mais seco e direto.
Serão exibidos ainda "Rosso" (1985), "O Clã - A História das Rãs" (1984), "Zombie e o Trem Fantasma" (1991), todos de Kaurismãki, e "As Filhas de Yemanjá" (1995), de Pia Tikka.
Já por alguns títulos e locais de filmagens, vê-se que o nome da mostra tem outra explicação. Mika tem uma ligação forte com o Brasil, onde costuma passar parte do ano. "As Filhas de Yemanjá" é uma co-produção Finlândia/Brasil.

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