São Paulo, sexta-feira, 7 de abril de 1995
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Casal resiste e impede finalização de ponte

DA REPORTAGEM LOCAL

Luiza Medeiros dos Santos, 80, não quer deixar a rua onde vive há 43 anos para que Paulo Maluf complete mais uma das obras viárias que têm marcado a sua gestão à frente da Prefeitura de São Paulo.
Ela é neta de Eugênio de Medeiros, personalidade de Pinheiros (zona oeste) que dá nome à rua onde a casa de número 65 resiste aos tratores.
Renato Thomé dos Santos, 72, marido de Luiza, disse que nem com força policial "o pessoal da prefeitura" vai conseguir tirá-lo da casa. "Daqui não vou sair", disse.
Santos contou que "o pessoal da prefeitura" ofereceu como alternativa, enquanto o dinheiro da indenização pela desapropriação não sai, a estadia em um flat. "Não quero ficar no flash (sic). Depois o dinheiro não sai e ficamos esquecidos."

Emurb
Problemas burocráticos estariam impedindo que Santos saque o dinheiro.
"Tenho uma casa em vista. Mas sem o dinheiro da indenização não vou sair daqui", afirmou.
A casa em que os dois moram agora fica exatamente na frente da nova alça de acesso para a ponte Bernardo Goldfarb, que liga os bairros de Pinheiros e Butantã.
Maluf inaugurou a ponte em 1993. Mas, sem a alça de acesso que sai da rua Eugênio de Medeiros, a ponte só pode ser utilizada no sentido centro-bairro.
A rua Butantã é movimentada demais para permitir o tráfego em duas mão.
A prefeitura pretende fazer com que os ônibus que saem da região de Pinheiros acessem a ponte por intermédio da rua Eugênio de Medeiros.
Para Santos e Luiza, mais importante do que a ponte são as plantas medicinais que estão no quintal.
"Toda a vizinhança vem buscar remédio aqui", contou Santos.
Eles não têm filhos. Uma sobrinha, que mora na mesma rua, é a parente mais próxima. A família são os vizinhos.

Pinheiros
"Procurei casas em Pinheiros. Mas não dá para comprar", disse Santos.
Na última quarta-feira, a prefeitura havia requisitado força policial para retirar os dois da casa e começar a demolição.
O advogado do casal conseguiu mais uma semana para providenciar os documentos necessários para a retirada do dinheiro depositado em juízo.
"Não queria que viesse a polícia", disse Santos.
A neta de Eugênio de Medeiros fala pouco.
"Se eles vierem, chamo a imprensa", disse Santos. "Aí, eles não vão poder fazer nada contra a gente." (CA)

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