São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Banco prevê nova mexida no câmbio

DA REPORTAGEM LOCAL

Mexer no câmbio ou promover uma recessão. Esse dilema continua dominando o cenário de curto prazo segundo relatório preparado pela área econômica do Banco de Boston.
Para a equipe do banco, analistas e empresários continuam inseguros sobre a eficácia das medidas adotadas pelo governo, que já desvalorizou o real e ,mais recentemente, elevou a alíquota de importação para carros e outros bens de consumo.
O próprio banco dá como inevitável uma nova rodada de desvalorização do real e prevê já para o segundo trimestre do ano a paridade de R$ 1,00 por US$ 1,00.
Apesar disso, as projeções para o final de 95 apontam para perda de US$ 13,8 bilhões nas reservas internacionais (o caixa em moeda forte, dólar, do país) e queda do saldo comercial (exportações menos importações) de 71,2% -as exportações superariam as importações em US$ 3 bilhões.
Na avaliação do banco, a crise cambial brasileira foi iniciada pelo movimento de capitais que se seguiu ao malogro mexicano.
Antes, dinheiro de investidores estrangeiros procurava a América Latina em busca de bom rendimento. Os ganhos fáceis traziam mais recursos. Depois, os prejuízos e o medo de perder ainda mais secaram a fonte. O dinheiro que veio fácil, foi embora -é o que os economistas chamam de fuga de capitais.
Mas a ajuda norte-americana ao México e o acerto da Argentina com seus credores internacionais aliviaram as pressões. No caso brasileiro, porém, essa melhora de seus vizinhos acabou trazendo para o primeiro plano as dificuldades internas.
Com a economia mais aberta (mais livre para as importações), ao contrário do que aconteceu no Plano Cruzado (de 1986), o excesso de consumo não virou ágio (valor cobrado acima do preço de tabela) ou desabastecimento; virou crescimento das importações.
Para o Boston, o reajuste do salário mínimo, previsto para maio, e dos dissídios (caso dos metalúrgicos do ABCD) vão aumentar a possibilidade de consumo. A safra agrícola, embora aumente a oferta de alimentos, também aumenta a renda do homem do campo e pode gerar mais consumo.
Um consumo possivelmente mais aquecido e a elevação dos preços das roupas com a mudança de estação podem levar alguns índices de preços ao patamar de 3% de inflação.
Assim, permanece no cenário a possibilidade de o governo ter de adotar novas medidas, na tentativa de conter o consumo.
Os índices de inflação em alta e desconfianças quanto ao comportamento da balança comercial (exportações e importações) arranham a popularidade do governo e a credibilidade do Plano Real.
O cenário se complica ainda mais pela incapacidade de articulação política do governo, que foi obrigado a recuar na proposta de reforma da Previdência, não consegue agilizar o programa de privatizações e retoma a tese de prolongar o Fundo Social de Emergência por dois anos.
O raio de manobra do governo se estreitou no curto prazo e pode ficar ainda menor se se consolidar a impressão de que as chamadas reformas estruturais (tributária e previdenciária, especialmente) não vão sair do papel.

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