São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NA PONTA DA LÍNGUA

MARCELO LEITE

O programa de didatismo e controle de erros da Folha está em pleno andamento. Dois efeitos são particularmente visíveis para os leitores:
1. Caiu muito o número de erros de digitação (troca e omissão de letras), com a obrigatoriedade de usar o corretor ortográfico embutido no programa de processamento de textos do jornal. Agora, nenhum repórter ou redator consegue gravar um texto sem antes peneirá-lo com o corretor.
2. Aumentou o número de erramos publicados na pág. 1-3. Não só isso: o leitor mais atento terá notado também que eles se tornaram menos lacônicos e mais interessantes. Em lugar de registrar burocraticamente os erros cometidos, algumas dessas notas transparecem a viva intenção de dar algo a mais para o leitor, de explicar-lhe algo, acrescentar e não só retificar. Sempre foi esse o espírito do erramos, mas a Redação tendia para ignorá-lo.
O jornal, por outro lado, continua cometendo erros crassos. Apesar do corretor, a palavra "buraco" saiu com dois erres ("burraco"), na última segunda-feira, em um título da seção Via SP (que só circula na cidade de São Paulo). Como a palavra "burraco" não existe em português, não dá para entender por que o corretor não tropeçou nela.
Pior, muito pior, tinha ocorrido no dia anterior. Na seção Saia Justa (pág. 3-8), a reportagem "Mulher que ganha mais leva homem ao divã" trazia em sua linha-fina (subtítulo) a seguinte preciosidade: "Advogada conta que o marido tinha pesadelos e a via exibindo o holerite e mandando ele lavar uma pilha de louça".
Mandando ele; nossa. Qualquer criança deveria saber que o certo é "mandando-o lavar louça". É preciso sair uma enormidade dessas no alto de uma página de jornal para se descobrir que até adultos -pior, jornalista, que são profissionais da palavra- ignoram coisas tão básicas.
Tem mais: se tivesse seguido o que manda o "Novo Manual da Redação", o redator jamais poderia ter escrito "holerite". Como está explicado no verbete "regionalismo" (pág. 107), esse termo só é usado em São Paulo como sinônimo de "contracheque".

Texto Anterior: O grifo e o FSE
Próximo Texto: Protesto de moradores leva Dersa a adiar nova operação descida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.