São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Pirâmide' contrasta com velhos cartórios

FREDERICO VASCONCELOS
DO EDITOR DO PAINEL S/A

A Fiesp tem duas faces. A mais exposta é a pirâmide da avenida Paulista. A menos visível é bem simbolizada num pardieiro da avenida Rangel Pestana, no Brás, onde estão as "sedes" de dois dos chamados "sindicatos de gaveta" (de representatividade duvidosa).
Naquele velho edifício, dividem a mesma sala os inexpressivos sindicatos da "indústria da mandioca" e da "indústria de camisas para homem e roupas brancas".
O endereço também é "sede" de seis sindicatos do comércio. Um único secretário-executivo cuida dessa curiosa integração. As "assembléias" costumam ser marcadas para a mesma data.
O advogado Paulo Chaves, que há 25 anos administra essa burocracia, diz que ali é apenas "a sede da assessoria" (de sua propriedade). "Quando há reunião, eles se encontram na Fiesp ou almoçam no Dinho's Place", diz.
O presidente do sindicato da indústria da mandioca, Geraldo Buzolin, 61, diz que usa o local por economia. Buzolin rejeita a expressão "sindicato de gaveta", porque sugere irregularidades. "O sindicato já foi forte e nunca utilizamos a estrutura da Fiesp", diz. "Somos pequenos, não estamos pendurados no BNDES, e não queremos aparecer", diz.
Esse tipo de "sindicato-cartório" também existe no prédio da avenida Paulista. Oficialmente, 39 sindicatos têm sua "sede" no edifício com formato de ralador de queijo (37 deles em dois andares).
O artificialismo da representação sindical é exemplar no conjunto 1.009 do prédio da Fiesp, onde estão os sindicatos de cordoalha e estopa, balanças, pesos e medidas e os de discutível contribuição para o PIB paulista, como os de chapéus, guarda-chuvas e bengalas.
O chapéu saiu de moda há anos. Mas há um sindicato de chapéus (de homem) e um de "chapéus de senhoras". O sindicato da "indústria da confecção de roupas" coexiste com o sindicato da indústria de "alfaiataria e de confecção de roupas de homem" e com o específico de "camisas para homem".
Esses "sindicatos de papel" têm poder de voto igual ao do sindicato da indústria de máquinas. Como a eleição na Fiesp depende dos votos desses sindicatos, perpetua-se um colégio eleitoral distorcido e fora da realidade.
"Ainda não houve um progresso como eu gostaria. Mas eu não posso intervir, tenho que respeitar a autonomia sindical", alega Moreira Ferreira. Ele será reeleito pelos sindicatos ativos e pelos "sindicatos de papel".(FV)

Texto Anterior: Fiesp deve reeleger Moreira Ferreira sem concorrentes
Próximo Texto: Fundos de renda fixa dão até 86% em 4 anos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.