São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Ações do Brasil 'saem de moda'

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de ações do Brasil saiu da moda, pelo menos por enquanto, entre os investidores estrangeiros. A principal razão para isso é que os investidores se deram conta de que foram "muito otimistas" ao apostar na "rápida" aprovação pelo Congresso das reformas prometidas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em sua campanha.
Além da frustração com a lentidão das reformas e das privatizações, o temor de uma desintegração política no México, a incerteza de suas implicações para o Brasil e os altos juros nos EUA continuarão afastando os investidores estrangeiros das Bolsas brasileiras este ano.
Essas são as principais conclusões de três análises de instituições financeiras britânicas sobre as perspectivas do mercado de ações brasileiro em 1995. Os estudos apontam que o interesse dos investidores estrangeiros no Brasil, medido pelo volume de ordens de compra de ações brasileiras, "secou".
Um estudo da corretora Stephen Rose & Partners, de Londres, diz que o mercado de ações brasileiro é visto agora no exterior como um "show me market", um jargão que significa que os investidores só voltarão a confiar no país vendo as reformas concluídas e não com a promessa de que serão realizadas.
O estudo identifica um "elevado grau de nervosismo" entre os investidores institucionais com relação ao Brasil.
"Os investidores estão surpresos, até certo ponto frustrados, com a falta de agressividade do presidente Fernando Henrique na questão das reformas e sua incapacidade de usar o capital político que obteve com uma confortável e convincente vitória eleitoral", afirma Laurie Higgitt, da corretora Stephen Rose.
"Há pouco interesse nas Bolsas brasileiras. O volume de ordens de compra de ações é decepcionantemente baixo", diz.
Stephen Rose acha, porém, que a atitude dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil se aproxima do ponto onde "a razão vai substituir a emoção".
"Havia uma expectativa entre os investidores brasileiros, que acabou não se confirmando na prática, de que, uma vez eleito Fernando Henrique Cardoso, os investidores estrangeiros iriam voltar com toda força", afirma.
Para Rose, a ausência dos investidores externos é uma das principais causas das quedas e da volatilidade recente da Bolsa de São Paulo. "Os investidores locais estão ficando cansados de esperar a chegada dos investidores externos na festa".
A conclusão de Rose é, porém, otimista com relação ao futuro dos mercados emergentes da América Latina: "É verdade que o fim está próximo, mas na nossa opinião é o fim da depressão do mercado de ações que está perto, e não Brasil, Argentina ou mesmo o combalido México".
Fiona Tchen, da Foreign & Colonial Emerging Markets, vê um início da volta de interesse no Brasil na esteira dos acordos do México e da Argentina com o Fundo Monetário Internacional.
"Os investidores estão agora, em vez de falar apenas em vender suas ações e sair do Brasil, pensando em quando começar a comprar ações brasileiras de novo", diz. A análise da Foreign & Colonial avalia as perspectivas político-econômicas do Brasil como "positivas" num horizonte de 12 meses, mas "incertas" a curto prazo.
As incertezas são as dificuldades do governo no processo de reforma constitucional e uma potencial alta da inflação para 2% ou mais ao mês em abril e maio.
Uma pesquisa de David Lubin, economista do departamento de mercados emergentes do grupo britânico HSBC, dono do Midland Bank, mostra que os investidores estrangeiros estão "decepcionados" com o Brasil.
"Ainda há investidores interessados no Brasil, mas o nível de interesse declinou acentuadamente em relação ao início do ano passado", diz.

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