São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Peças "interativas" unem platéia e atores

Espectadores podem atuar, brincar e até decidir o final

CLÁUDIA PIRES
</FD:TEXTO><UN>FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aumentar a participação e interação com a platéia, tornando cada vez menor a linha divisória que separa o ator de teatro do público. Esse é o objetivo de algumas das companhias que têm peças em cartaz em São Paulo.
As formas de participação e integração entre público e elenco são diferenciadas.
Há espetáculos, como "Vacalhau e Binho", que misturam atores e platéia em cena. Outros brincam com o público, puxando-o para o palco e até deixando que ele decida o final da história.
A brincadeira do "Você Decide" fica por conta da peça "Corte Fatal", adaptação do texto de Paul Portner feita por Luís Fernando Veríssimo.
A ação se passa no salão de cabeleireiros que dá nome ao espetáculo. Ocorre um crime e a platéia é convocada para auxiliar na solução do mistério.
A partir deste momento, qualquer pessoa na platéia pode se manifestar dando sua opinião sobre o possível assassino ou exigindo explicações de fatos ocorridos.
"O público só participa se quiser. A interatividade é conduzida de maneira que as pessoas na platéia fiquem à vontade para participar da investigação", afirma Marga Jacoby, 47, produtora da peça.
A partir das opiniões das pessoas a peça é decidida. "Algumas pessoas ficam retraídas, não gostam de participar, e isso é respeitado. Mas a maioria se sente à vontade e entra na brincadeira", afirma o ator Márcio Ribeiro, 31, que faz um dos investigadores.
Outros espetáculos não trabalham com este tipo de interação, mas procuram aproximar o público e o ator através de brincadeiras ou música, como em "Comédia dos Erros", "Mistério Gozozo" e "Tantã".
Na primeira peça, o grupo Ornitorrinco brinca com o espectador, como já fizera anteriormente nos espetáculos "Ubu Rei" e "O Doente Imaginário".
Os atores descem do palco e correm pela platéia brincando com as pessoas. Uma das cenas mais "calorosas" acontece quando a atriz Yvette Mattos, 30, no papel de uma cozinheira, agarra um homem na platéia confundindo-o com seu marido.
Para o diretor Cacá Rosset, 41, essas brincadeiras ampliam a comunicação entre o público e o elenco e fazem com que o espectador se sinta como parte integrante do espetáculo.
"Nós desenvolvemos uma técnica para que haja essa interação. Tem que haver equilíbrio. Dentro de uma aparente anarquia, o ator tem que saber o que fazer", afirma o diretor.
Mas, mesmo com essa orientação, Cacá afirma que os atores não escolhem com quem brincar na platéia. Segundo ele, as pessoas que ficam nas primeiras fileiras são escolhidas apenas por serem "alvos mais fáceis".
Em "Mistério Gozozo", dirigida por José Celso Martinez Corrêa, a brincadeira com a platéia acontece em vários momentos do espetáculo.
"Numa das cenas, colocamos uma música e o público dança como num baile funk", afirma o ator Marcelo Drummond, 33.
"Em outra cena, saio perseguindo um dos personagens com um chinelo e acabo correndo atrás de algumas pessoas na platéia. O clima da brincadeira é contagiante, relembrando os antigos espetáculos circenses", afirma Drummond.
No monólogo "Tantã", a atriz Cristina Pereira começa o espetáculo saindo do meio da platéia, brincando com as pessoas na pele de uma das personagens que interpreta.
Um exemplo diferente de integração com o público pode ser encontrado na peça "O Livro de Jó". Os espectadores acompanham a ação seguindo os atores, que realizam a encenação dentro de um hospital desativado.
Para o diretor Antônio de Araújo, 28, esse acompanhamento da platéia torna o espetáculo mais emocional. "O público acompanha o flagelo do personagem principal muito de perto e se choca com mais facilidade".

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