São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Historiador restaura linguagem de Gonzaga

AUGUSTO MASSI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 09/06/95
No Mais! de 4/4, à pág. 5-5, a palavra apógrafos foi grafada erroneamente (saiu "apócrifos"). Na mesma página leia-se "Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro", ao invés de "Instituto Geográfico Brasileiro". No verso nº 32, das "Cartas Chilenas", de Gonzaga, o correto é "Vestida uma vermelha e justa farda" (e não "numa vermelha..."). No verso nº 49, o correto é " rapando a barba" (e não "raspando").
Historiador restaura linguagem de Gonzaga
O poema satírico "Cartas Chilenas" é composto por 13 cartas e uma "Epístola a Critilo", este, escrevendo de Santiago do Chile, remete a Doroteu, na Espanha, críticas ao governo de Fanfarrão Minésio. Depois de muita controvérsia em relação à sua autoria, hoje é atribuído ao poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1809).
"Cartas Chilenas" teve várias edições e sobreviveu a uma longa série de equívocos. A primeira edição foi feita 1826, no "Jornal Scientifico, Economico e Litterario" que publica apenas a "Epístola a Critilo". Em, 1845, a revista "Minerva Brasiliense" acrescenta sete cartas. Quase 20 anos depois, em 1863, são publicadas, pela primeira vez, as 13 cartas em forma de livro. Uma nova edição das "Cartas só irá aparecer em 1940, sob os cuidados de Afonso Arinos. Posteriormente, surgem as famosas edições de Rodrigues Lapa, uma de 1942 e a outra de 1957. Somente em 1972 temos a edição de Tarquínio de Oliveira, o primeiro a transcrever os apócrifos (que estão no Instituto Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro e na Biblioteca Pública de Belém, no Pará).
Diante destas reviravoltas editoriais, Joaci Pereira Furtado, mestre em história social pela USP, autor de uma tese sobre a recepção do poema de 1875 a 1989 afirmou que sua preocupação foi "restaurar a linguagem original do texto, preservando expressões de época sem prejudicar a legibilidade do leitor contemporâneo. Preservei a pontuação e as maiúsculas (usadas de modo irônico na palavra Chefe). Talvez, a maior novidade desta edição esteja na tentativa de buscar uma fidelidade maior, chegar o mais próximo de como o poema seria no século 18".
Na introdução, Joaci alerta para que o leitor não veja o poema como mero reflexo ou retrato da época: "É comum encontrar nas antologias referências a uma passagem da Carta 1 na qual a descrição do Fanfarrão Minésio tem sido tomada como um retrato do governador Luís da Cunha Meneses. Não pode ser um retrato do governador porque é uma colagem de vários modelos retóricos que se encontram, por exemplo, em Quintiliano".
Decorrente de tal mimetismo, houve a construção de um discurso que transformou as "Cartas Chilenas" em manifesto nacionalista. O poema está longe disso. Em "Tentativas de Mitologia", Sérgio Buarque de Hollanda já apontava para aspectos reacionários da obra de Gonzaga. Tais considerações não desmerecem nem diminuem o valor do poeta. O professor Joaci vê com satisfação o renascimento do interesse em torno do autor das "Cartas Chilenas".
(AM)

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