São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Governo tem caráter autoritário

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Fujimori costuma dizer que o fechamento do Congresso, intervenção no Judiciário e decretação do Estado de emergência, em 1992, não foram golpe nas instituições, e sim uma mudança de rumo "de acordo com as aspirações populares.
O seu favoritismo nas eleições, que mesmo experimentados sociólogos peruanos encontram dificuldades em explicar, dariam razão a ele.
O fato, no entanto, é que um triunfo nas urnas, embora possa significar aprovação, não altera o que tem sido o fujimorismo.
Fujimori ganhou em 1990 com um discurso e governou com outro. Condenou como candidato o neoliberalismo do adversário Mario Vargas Llosa e dois meses após a posse aplicou um choque mais duro do que o prometido pelo escritor.
Sua ex-mulher acusou-o, não importam as razões, de autoritarismo e corrupção. Pouco antes da guerra com o Equador, teatral e eleitoreira, chefes militares da intimidade da Presidência foram alvos de denúncias envolvendo tráfico de drogas.
Personagem misterioso, um capitão chamado Vladimiro Montesinos é tido como "eminência parda no palácio presidencial e produz ódios e medos.
Em 1990, os peruanos votaram por mudanças, contra a velha política e contra um populismo que elevou a inflação e parecia a ponto de ser abatido pelo Sendero Luminoso.
Fujimori golpeou o senderismo e a inflação, garante que o Peru bate recordes de crescimento econômico e mesmo assim se recusou a debater abertamente, cara a cara, com adversários eleitorais.
Talvez por que a luta contra o terrorismo guerrilheiro resultou em violações maciças dos direitos humanos e o choque vitorioso não mudou um quadro de pobreza extrema.
"Farei o mesmo que fiz até agora, diz. A julgar pelas pesquisas, de nada adiantou a Javier Pérez de Cuellar, seu principal adversário na eleição de hoje, prometer um "liberalismo humanitário.
Os peruanos, talvez por medo de ressurreição do senderismo ou de fantasmas inflacionários, parecem preferir ficar com o que já conhecem, a ir atrás do que vêem como meras promessas eleitorais.

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