São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Cinto apertado e "saia justa"

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

Entrevistas com astros da Fórmula 1 raramente são interessantes. Além de não terem o dom da oratória, pilotos e ex-pilotos não costumam dar vazão à espontaneidade e senso crítico, talvez por temerem arranhões na imagem. "Eu tenho um nome a lazer", como dizia o canastrão Alberto Roberto, personagem criado por Chico Anysio.
Nelson Piquet é exceção. Contumaz ganhador do "troféu limão", dado pela imprensa especializada ao piloto mais ranzinza, fez as pazes com a mídia após abandonar as pistas, e tem enriquecido talk shows com seus ácidos comentários e "inside informations". No ano passado, logo após a morte de Senna, afirmou no "Roda Viva", que Schumacher ganharia o campeonato. "E o Hill?", perguntaram. "Ah, o Hill não é piloto", deu de ombros, entre risos generalizados.
No mesmo programa, fez elogios a Ayrton -como piloto- que não soariam insinceros ao mais fanático "sennista", e borrifou realismo na emocionada discussão sobre segurança na F1. Para horror da apresentadora Rosely Tardelli, comentou que não há segurança total possível onde se anda a 300 quilômetros por hora, e que pilotos têm plena consciência disso, ganhando fortunas justamente por serem talentosos e destemidos corredores de riscos.
Surpresa foi saber, há duas semanas, que na F1 ele improvisava à maneira dos tempos de oficina em Brasília, quando secretamente usava componentes de veículos da clientela em seu carro de competição. No "Cartão Verde", contou que, para reduzir o peso do carro na veloz pista de Silverstone, tirou do câmbio as engrenagens da 1ª, 2ª e 3ª marchas e esvaziou o extintor de incêndio. Deve ter esquecido de contar que ele próprio estava mais leve, por ter um parafuso a menos. Mas na pista não lhe fazia falta.

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