São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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CNT quer os insatisfeitos, diz ministro

JOSIAS DE SOUZA

(continuação)
'Há um público que não gosta do Faustão, do Silvio Santos, e que fica mudando de canal a toda hora'
"Gosto de alguns quadros do Faustão; acho que o 'Fantástico' já foi melhor"
"Vou passar emissoras para outros nomes do grupo e cumprir o que a lei determina"
"Eu vejo, obviamente, o 'Gente que Faz'; é um programa curtinho, mas é ótimo"

Folha- Quando o sr. for novamente candidato à Presidência ou ao governo do Paraná, vai resistir à tentação de valer-se politicamente de suas TVs, de suas rádios, de seu jornal?
Andrade Vieira- Não pretendo ser novamente candidato a presidente. Isso foi um momento. Não deu certo, mas podia ter dado.
Folha- Mas ao governo do Paraná o sr. vai ser candidato. Ou não?
Andrade Vieira- O problema do Paraná é daqui a quatro anos. É claro que eu, como político, se pretendo seguir a carreira, tenho que disputar a eleição. Mas não estou atrás de cargo. Ser governador não é uma coisa primordial para mim. Minha profissão não é ser político.
Folha- Eu faço a pergunta porque a exploração política de canais de rádio e TV se introduziu na cultura brasileira. Políticos se utilizam dos meios de comunicação.
Andrade Vieira- O Paulo Pimentel utilizou contra mim no Paraná. E o que aconteceu? Ninguém mais lê o jornal dele e ninguém assiste aos programas dele na televisão.
Folha- O sr. não cairia na tentação de responder a essas críticas pelas suas TVs?
Andrade Vieira- De jeito nenhum. Está tudo na mão de profissionais competentes. Assim deve permanecer.
Folha- Mas no conselho da CNT, a decisão final é sempre sua, não é?
Andrade Vieira- Nas questões empresariais. Não na questão jornalística e editorial. O compromisso do Martinez comigo é justamente esse: não interferir mais na programação. Vamos pôr os profissionais lá e deixar que eles façam. Antes ele interferia muito. Esse era um dos problemas de gestão da empresa. Vou agir como empresário. Deixa o jornalista trabalhar e responder por suas ações.
Folha- Um profissional da CNT poderá criticar o político Andrade Vieira?
Andrade Vieira- Pode falar. Ontem mesmo me contaram que, em um programa de debate lá, alguém me criticou.
Folha- Mas alguma autocensura deve haver.
Andrade Vieira- Não tem. Quero fazer uma coisa séria.
Folha- A CNT nasceu de um projeto que envolvia o ex-presidente Collor e seu tesoureiro Paulo César Farias. O sr. não tem receio de se contaminar com essa má imagem da empresa?
Andrade Vieira- Acho que essa associação, hoje, praticamente inexiste. A não ser por maldade, não há como misturar essas coisas. É uma nova fase da CNT. E como eu sou muito otimista, tenho a certeza de que ela vai ganhar alguns pontos de audiência.
Folha- Além das duas TVs no Paraná, o sr. tem uma emissora em Americana. A lei proíbe que uma pessoa tenha tantas emissoras. O sr. não teme ter problemas com Sérgio Motta, ministro das Comunicações?
Andrade Vieira- Como a legislação regula as participações, eu estou vendendo algumas emissoras. Vou passar para outros nomes do nosso grupo para cumprir o que a legislação determina.
Folha- Isso está sendo feito para manter a fachada ou o sr. está vendendo de fato?
Andrade Vieira- Estou vendendo de fato, mas claro que continuarei no comando, até porque as pessoas do meu grupo confiam no meu tino.
Folha- Quando o sr. fala do seu grupo está se referindo às suas empresas?
Andrade Vieira- É, me refiro às pessoas do meu grupo empresarial e familiar.
Folha- Quem compraria a TV de Americana?
Andrade Vieira- Pode ser um parente meu ou diretores.
Folha- Em Londrina será a mesma coisa?
Andrade Vieira- Sim. Por exemplo, o dr. João Vieira vai comprar.
Folha- Ele vai comprar qual das duas emissoras?
Andrade Vieira- Ele está vendo lá.
Folha- Eu insisto. É uma compra efetiva ou ele será um testa-de-ferro do sr.?
Andrade Vieira- É uma compra efetiva. Os diretores do Bamerindus felizmente ganham muito bem (risos).
Folha- Quer dizer que dá para comprar uma TV?
Andrade Vieira- Para comprar uma TV, não. Mas para comprar uma participação na TV sim.
Folha- O sr. deixaria de ser majoritário?
Andrade Vieira- Isso. Eventualmente posso ficar até sem participação nenhuma.
Folha- O sr. já conversou com o ministro Sérgio Motta sobre essas composições?
Andrade Vieira- Já expliquei a situação a ele. Estamos fazendo tudo dentro da lei.
Folha- O sr. chegou a falar com o presidente FHC antes de comprar a CNT?
Andrade Vieira- Não.
Folha- E depois?
Andrade Vieira- Sim. Expliquei para ele essas razões. Disse que, como empresário do meu Estado, não poderia correr o risco de acabar essa rede de comunicação. Acho que essa é uma responsabilidade minha.
Folha- Do que o telespectador Andrade Vieira gosta?
Andrade Vieira- Gosto do noticiário, alguns quadros do Faustão, o "Fantástico" já foi melhor, o meu amigo Jô Soares, a Marília Gabriela, que sempre assistia, vejo também alguns quadros de "A Praça É Nossa". Eu não tenho muito tempo. Ah, vejo obviamente o "Gente que Faz" (risos). É curtinho, mas é ótimo.
(continua)

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