São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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CUT reduz estrutura e busca novo estilo

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A CUT (Central Única dos Trabalhadores) enxugou seu quadro de funcionários, reestruturou o gerenciamento da Executiva Nacional e se prepara, mesmo sem o assumir abertamente, para funcionar como uma entidade social-democrata de estilo europeu.
Essa adoção da lógica empresarial se acompanhou da implosão da estrutura vertical de poder, na qual o presidente e 24 diretores possuíam atribuições as mais compartimentadas.
"Estavam todos ilhados em suas áreas", diz o secretário-geral João Vaccari Neto. "A gente era uma CUT cheia de cutizinhas", diz Vicentinho.

Novo modelo
Pelo novo modelo, os diretores passam a funcionar por metas e a integrar três núcleos, chamados centros de apoio.
Os três núcleos são o político, o logístico e o financeiro.
No sétimo andar do Edifício Martinelli, em São Paulo, sede da Executiva Nacional, as divisórias estão sendo eliminadas.
Ninguém mais terá secretárias e assessores particulares. O espaço funcional será comum.
Nessa "reengenharia", e a palavra já é assumida abertamente, não se fala apenas em melhorar o diálogo com as bases, hoje compostas por 2.249 dos estimados 19 mil sindicatos brasileiros.
A linguagem é despudoradamente gerencial. O primeiro objetivo é "atingir mais agilidade para encaminhar as decisões", diz um texto interno.
Mas com a nova estrutura -e isso ninguém assume abertamente para não criar atritos- ficou neutralizado o poder dos grupos radicais que se opunham à guinada social-democrata.
Eles estão na Direção Nacional (colegiado de 150 sindicalistas) e em diretorias ocupadas por trotskistas ou stalinistas do PT, pelo PC do B e pelo PSTU (ex-Convergência Socialista).
A social-democracia é também uma forma de se firmar como a maior interlocutora latino-americana do Ciols (uma das internacionais do sindicalismo), que sinaliza os projetos financiados por fundos estrangeiros.
Um dos dirigentes resume a mudança da seguinte maneira: a CUT antes se legitimava com base na mobilização e na agitação. Hoje ela quer medir seus resultados pela capacidade de influenciar a agenda do Estado.
Essa agenda permanece peculiar. A central, com uma predominância de dirigentes vindos de estatais, opõe-se ao plano de privatizações do governo.
Mas "a CUT está mudando. Há cinco anos a gente se recusaria a discutir com as empresas questões como qualidade e competitividade", diz Heiguiberto Navarro, o Guiba, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
A nova CUT acredita que agora é preciso propor e não apenas criticar.

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