São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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Shopping 24 horas cria "night shoppers"

DA REPORTAGEM LOCAL

Se o paulistano já passava o dia fazendo sabe-Deus-o-quê em shoppings, agora que foi inaugurado um que fica aberto 24 horas, ele começa a repetir a dose à noite.
O River Point virou point mesmo e acabou dando origem a mais uma "tchurma" de shopping center. São os "night shoppers" (compradores noturnos em inglês). Na primeira semana, o lugar reuniu 14 mil pessoas.
Na verdade, os "night shoppers" não compram muita coisa. Fazem o mesmo que os frequentadores normais de shopping, ou seja: andar de um lado para o outro, conversar e comer em lanchonetes.
"É legal vir a este shopping. Aqui é mais vazio e seguro ", diz Gustavo Bueno, 19. O garoto visitava o shopping pela terceira vez em uma semana.
Tem gente unindo o útil ao agradável. Kelly Olanda, 20, é maníaca por shoppings e arranjou emprego de recepcionista no River Point. Ela chega no trabalho às 18h e sai às 2h. Antes de ir para o River, ela costuma fazer compras. Em shoppings, é claro.
"Hoje mesmo estive no Center Norte antes de vir para cá", conta a "shopping victim" (vítima de shopping em inglês). Ela aponta as vantagens dos shoppings de São Paulo. "O Ibirapuera e o Center Norte são bons para compras. O Iguatemi e o Morumbi são melhores para diversão", diz.
Pamela de Magalhães, 13, é outra maníaca por shoppings. Ela frequenta o Eldorado duas vezes por semana e passou a frequentar o River Point. "É bom que este (River Point) não fecha às 22h. Dá para vir aqui bem tarde. Shopping é o melhor lugar para passear", diz.
O movimento no River Point acaba seguindo o das casas noturnas da rua Franz Schubert (zona sul), onde está localizado.
Patrícia Faguri, 17, visitava o River na última quinta-feira antes de ir à Limelight. "Vim aqui só para aquecer. Na saída, talvez volte para fazer um lanche", disse.
Para o sociólogo Heitor Frugoli, 36, paulista e autor da tese "Os Shoppings Centers de São Paulo e as Formas de Sociabilidade no Contexto Urbano", o fenômeno deixou de ser exclusividade dos moradores de São Paulo.
"Novos shoppings são inaugurados em todo o mundo. Mesmo em cidades pequenas ou de praia, são pontos de encontro", diz.
Em seu trabalho, ele procura responder o que tanto os teens fazem em shopping centers?
"O shopping aparece como uma ilha de tranquilidade no meio da cidade. Um lugar sem engarrafamento e sem violência."
Essa é uma boa razão para shoppings lotarem em São Paulo ou no Rio. Mas por que em cidades menores e mais tranquilas tem um monte de gente indo a shopping?
"Para quem mora na periferia ou no interior, ir ao shopping dá uma idéia de modernidade, de estar acompanhando a moda dos grandes centros", diz Frugoli.
São Paulo tem 16 shoppings, cada um com sua turma. Frugoli estudou diferenças entre o Center Norte, o Iguatemi e o Morumbi.
"O Iguatemi recebe um público mais mauricinho. No Center Norte, o pessoal é mais diverso. O Morumbi tem gente de todas as classes sociais."
Ele ainda não sabe dizer qual será o perfil do frequentador de um shopping aberto 24 horas.
Chegar à noite no Center Norte é garantia de encontrar gente com caderno embaixo do braço e com hora para pegar o metrô.
No Iguatemi, nada mais comum que grupos de adolescentes, batendo papo nas lanchonetes, à tarde.
"O Center Norte é o melhor. Quem vai ao Iguatemi tem mais grana e é muito metido. Não é para mim", diz o estudante André Luís de Araújo, 21, que mora em Itaquera e frequenta o Center Norte.
"Gosto mais do Iguatemi. Aqui tem uma lojas mais legais", diz Cristina Brandão, 20.

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