São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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Três atrizes mostram qual é o sexo frágil

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem acredita que o sexo feminino é o sexo frágil pode deixar as esperanças de lado quando entrar no teatro Hebraica, a partir de quinta-feira, para ver "Três Mulheres Altas", a premiada peça de Edward Albee, 67.
A montagem brasileira da peça do dramaturgo americano, que tem provocado filas em Nova York (EUA) e Londres (Inglaterra) e elogios na imprensa mundial, tem três personalidades fortes no elenco: Beatriz Segall, Natália Thimberg e Marisa Orth.
"Três Mulheres Altas" foi considerada a melhor peça de Albee desde "Quem Tem Medo de Virginia Woolf" (1962), filmada com Richard Burton e Elizabeth Taylor nos papéis principais.
Mas, se na peça de 1962 Albee fez um mergulho sufocante na relação conjugal, na peça de 1994, que estreou em Viena (Áustria) sob sua própria direção, disseca a fibra de que são feitas as mulheres -e a ação do tempo sobre ela.
"Nunca um homem escreveu tão bem sobre as mulheres", diz Beatriz Segall. Foi ela que, entusiasmada com o texto, decidiu comprá-lo no ano passado para uma montagem brasileira.
Sua vontade era férrea -ou feminina. Chamou José Possi Neto para a direção, entregou a tradução à experiência da dramaturga Maria Adelaide Amaral e conseguiu do Banco Real um patrocínio de US$ 800 mil para a produção.
Com ela, Beatriz quer acabar de uma vez por todas com sua imagem de "mezzo" atriz, "mezzo" dama de sociedade, herdada de atuações na TV. Quer se elencar entre as damas do teatro brasileiro.
Marisa Orth e Natália Thimberg também não escondem sua ambição. "A peça é excelente", diz Nathália. "Há muito tempo não se via um texto assim para teatro."
As personagens, as três mulheres altas, se "chamam" A, B e C. Beatriz é A, uma mulher de 92 anos, adoentada e amargurada. Só se anima, e a um ponto infantil, quando lembra o passado.
Natália é B, uma mulher de 52 anos que a própria atriz define como "no domínio de sua maturidade". Governanta de A, B é irônica; não tem ilusões e, salvo raras vezes, compaixão.
Marisa é C, a mais jovem, de 26 anos, advogada de A. C, no texto, parece a menos definida, a mais plana das personagens. Marisa quer mostrar que não. "C não é ingênua, ela é tão esperta quanto A e B", diz.
Com essa frase, Marisa dá a chave da peça. A, B e C são muito parecidas. Do diálogo delas, cortante e sugestivo (leia texto abaixo), emerge a leitura do feminino que surpreendeu Beatriz.
A, B e C discutem, trocam lembranças, opiniões e impressões sobre homens, fidelidade, família e vaidade. Quase nada acontecendo, tudo acontece -e o público não desgruda os olhos. Tem sido assim nos outros países.

Peça: Três Mulheres Altas
Autor: Edward Albee
Direção: José Possi Neto
Elenco: Beatriz Segall, Natália Thimberg, Marisa Orth e Marcos Pecci
Estréia: quinta-feira, às 21h
Onde: Teatro Hebraica (r. Hungria, 1.000, tel. 011/818-8808, Jardins, zona sul de São Paulo)
Ingressos: R$ 20 (já à venda)

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