São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995 |
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Síndrome de larva
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA - Até dezembro do ano passado o Brasil convivia com dois fabulosos problemas. Tinha um presidente despreparado e um Congresso arrendado às moscas. Antes do real, vivíamos entre a agonia e o espanto.Hoje, o país enfrenta outros desafios. Há excesso de brilho no Palácio do Planalto e uma atmosfera de Maracanã em dia de Fla-Flu nos plenários da Câmara e do Senado. Soluções aparentes viraram problemas. Fernando Henrique dispõe de uma caixa de ferramentas mais apetrechada que a de Itamar Franco. As cúpulas do Congresso transbordam de gente. Mas continuamos aflitos e assustados. Submetidos à pressão de congressistas novos, os presidentes do Senado e da Câmara, José Sarney e Luís Eduardo Magalhães, interromperam a ditadura dos líderes. Na ausência de consenso, chamam o plenário à responsabilidade. Já se sabia que um Congresso vazio incomodava a muita gente. Descobre-se agora que um Parlamento cheio pode incomodar muito mais. Basta que, movido por interesses corporativos e fisiológicos, dane a conspirar contra a lógica, tabelando juros em 12% e distribuindo dinheiro de graça a fazendeiros. Diz-se que falta ao governo Fernando Henrique um ministro como Fernando Henrique, que, da pasta da Fazenda, fazia e acontecia no Congresso. Tolice. O que falta ao atual governo, suprema ironia, é um presidente amalucado. Sob Itamar, movidos pelo pânico do desastre, os congressistas engoliram siglas indigestas: FSE, URV... Sob Fernando Henrique, irresponsavelmente descontraídos, dão de ombros para a reforma da Constituição. Permite-se que um cenário positivo passe por uma metamorfose às avessas. É como se, revoltado com a aparência de linda borboleta, o Brasil se enfiasse de volta no casulo. Recém-saídos das urnas, presidente e parlamentares estão prestes a virar larvas repugnantes. Texto Anterior: Partidos? Que partidos? Próximo Texto: Clientes sem rosto Índice |
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