São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Microsoft faz aposta alta na superinfovia

BILL ECHIKSON
"WORLD MEDIA"

"Oi, sou Bill Gates."
A voz soa jovial e afável, sem nada do tom intimidador que se poderia esperar de um dos homens mais ricos e poderosos do mundo. Em 1981, depois de abandonar os estudos em Harvard, Bill Gates fundou a Microsoft, especializada na produção de sistemas operacionais. Hoje, com apenas 39 anos, Gates joga todas as fichas de sua gigante do software na nascente auto-estrada da informação -a superinfovia.
O visionário hi tech falou ao "World Media" em fevereiro, em Bruxelas. Para um homem que enriqueceu com o livre mercado, as opiniões de Gates são surpreendentes. Em lugar de combater o controle estatal, acha que os governos têm papel crucial a desempenhar no setor.

Pergunta - Como a superinfovia vai mudar nosso modo de vida?
Bill Gates - A infovia é uma revolução nas comunicações. Fundamentalmente, o custo das comunicações cairá drasticamente. Os PCs, os terminais na ponta do sistema, não importa se parecidos com os PCs de hoje ou com aparelhos de TV inteligentes, serão cada vez mais fáceis de usar, graças à maior potência e ao aperfeiçoamento dos programas.
Essa infra-estrutura vai redefinir a idéia de comunidade. Tornará possível a colaboração a grandes distâncias. Vai eliminar fronteiras, seja entre empresas, seja entre países.
Estou do lado dos que acreditam piamente nisso. Escrevo um livro sobre o assunto. A Microsoft está apostando seu futuro nisso. Pode ser que ainda leve uma década até que a infovia tenha impacto amplo, mas não é cedo demais para planejar.
Pergunta - Você não teme o surgimento de uma sociedade dividida por duas velocidades?
Gates - A era industrial surgiu de maneira desigual. Quando o telefone apareceu, também apareceu de modo desigual. Não acho que com o computador vá ser diferente. É uma tecnologia que permite que a tecnologia mundial seja partilhada.
O computador diminuirá as diferenças entre as nações. Pessoas inteligentes poderão desenvolver suas habilidades em termos globais. Ainda que de início essas novas tecnologias sejam adotadas principalmente nos países desenvolvidos, acabarão beneficiando o mundo todo.
Pergunta - Os EUA parecem muito à frente no mercado de tecnologia da informação. Os europeus, os japoneses, alguém mais poderá se emparelhar?
Gates - Até agora nada muito específico foi feito quanto à superinfovia. Então é difícil afirmar que os EUA estão na frente, exceto em termos de repercussão, "hype". O uso doméstico do PC é um pouco maior nos EUA, assim como os serviços "on-line", fundamentalmente porque os custos das telecomunicações são mais altos na Europa.
Pergunta - Os europeus insistem que os governos têm um papel a cumprir na difusão da sociedade da informação sem discriminações. O Estado deve ter algum papel?
Gates - Os governos sempre tiveram um papel central no estabelecimento das regras para as comunicações. Estão envolvidas questões como acesso universal e privacidade. Além disso, como as comunicações são parte importante da economia, o governo pode estar na frente em termos de utilização do sistema. Mesmo nos EUA, onde sempre tentamos deixar o governo de fora, o governo tem no mínimo o papel de estabelecer padrões técnicos para a infovia.
Pergunta - Daqui a cinco anos, qual será o centro dos seus negócios? Ainda o "Windows", ou a TV interativa?
Gates - Ainda nos concentramos no que sabemos fazer bem: programas. Daqui a cinco anos, esperamos ter desenvolvido o "Windows" como a melhor plataforma para a infovia, e desenvolver nossos instrumentos de negócios, como o Microsoft Office, para tirar proveito dela. Esperamos lançar uma quantidade enorme de séries em CD voltadas para o consumidor, de informação médica a games. Pergunta - Como a IBM, no passado, vocês não estão grandes e lentos demais?
Gates - Estamos envolvidos em muitas iniciativas novas, todas porém relacionadas ao ramo em que somos comprovadamente bem-sucedidos, o de fazer software. Precisamos ter espírito empreendedor, ou nossos dias estão contados. Em termos de indústria, o exemplo mais famoso é a IBM.

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