São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Páscoa cristã e judaica coincidem neste ano

DA REPORTAGEM LOCAL

Um acidente de calendário fez coincidir este ano uma das datas mais importantes do cristianismo e do judaísmo, festas religiosas que têm o mesmo nome em português (Páscoa), mas que na verdade marcam a cisão de uma religião e o nascimento de outra.
Segundo o monsenhor Alberto Beltrame, da Cúria Metropolitana de São Paulo, a coincidência do fim-de-semana das festas judaica e cristã ocidental (os cristãos ortodoxos têm outra data, pois usam outro calendário) neste ano não dá nenhum significado especial para a data.
"A grande coincidência ocorreu há quase 2.000 anos. A última ceia de Jesus foi uma ceia de Páscoa judaica. Para a igreja, a Páscoa cristã continua e realiza a páscoa judaica", diz Beltrame.
O "Pessach" ("travessia"), a "páscoa" dos judeus, amanhã e depois, combina canto, oração e um jantar ritual para comemorar os eventos que marcaram a libertação dos hebreus do Egito.
Há 34 séculos, Moisés ordenou aos hebreus no Egito que marcassem a porta de suas casas com sangue de cordeiro para que fossem identificadas e poupadas pelo anjo que mataria os primogênitos das famílias egípcias. Com essa demonstração de força, Moisés conseguiu fazer com que o faraó libertasse os hebreus.
O monsenhor Beltrame diz que a Páscoa cristã também tem o sentido de libertação. "A ressurreição é a libertação da morte", diz.

Ritos e regras
O ritual de "Pessach" começa com uma oração e um gole de vinho ritual. O menino mais novo da família inicia o ritual das quatro perguntas, sobre a razão da cerimônia e da saída dos judeus do Egito. Elas são respondidas com base na "Hagadá", livro que conta a história da libertação dos judeus do Egito.
Enquanto se comem alimentos que simbolizam os tempos do cativeiro, intercalam-se cantos e orações. Entre os alimentos estão uma salsa molhada em água salgada (as lágrimas do cativeiro), o "matza", pão sem fermento recomendado por Moisés, e ervas amargas ("maror"), que lembra a amargura dos tempos do Egito.
Além das tradições locais relativas à Páscoa, muitas delas de origem pagã, a Páscoa católica é no sentido religioso a culminância dos "exercícios quaresmais", segundo o monsenhor Beltrame.
Os exercícios, uma tradição cristã de 18 séculos, são o jejum, a esmola e a oração e hoje em dia seu sentido foi reinterpretado de maneira mais simbólica.
"Na oração você reflete como está sua relação com Deus. Na esmola você reflete como está sua relação com o outro -você é fraterno? No jejum você reflete sua relação com as coisas, com seu corpo -você é escravo de seus bens, desejos?", diz Beltrame.

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