São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
Próximo Texto | Índice

Mercado de arte se volta para psicodelismo

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Ultimamente, no circuito mundial de arte, falar em "pop art" não significa exatamente mencionar artistas como os americanos Andy Warhol ou Jaspers Johns. O que está despertando maior procura agora no mercado são pôsteres ligados à cena da contracultura.
Há duas semanas a galeria Bonhams, em Londres, colocou à venda uma grande parte do lote de pôsteres produzidos pela companhia Lead Pipe Posters durante o auge do psicodelismo na Costa Leste dos EUA.
O que o mercado espera é que este se torne um dos bons investimentos nos próximos anos. Especialmente pelo aumento da procura e pela queda de oferta. A Lead and Pipe acaba de fechar as portas.
Nas lojas de "memorabilia" (conjunto de artigos colecionáveis) hippie de San Francisco, os pôsteres em primeira edição (entre 1967 e início dos anos 70) feitos por esses artistas variam entre US$ 300 e US$ 4.000. Uma arte original pode chegar, em leilões realizados pela Sotheby's e Christie's, ao preço de US$ 45 mil.
Os trabalhos foram realizados por nomes como a dupla inglesa Nigel Weymouth e Michael English, os americanos Rick Griffin, Stanley Mouse e Alton Kelly e os artistas alemães Simon Posthuma, Josje Leeger e Marijke Koger, fundadores do grupo The Fool.
Suas obras são pinturas e colagens que tinham como objetivo anunciar concertos de bandas como Grateful Dead, Jefferson Airplaine, Captain Beefheart ou reuniões de grupos de "cultura alternativa".
O que mais atrai os compradores dessas obras é obter um objeto que pertenceu a um determinado período da história recente. O que, para muitos analistas de mercado, faz com que esses trabalhos tenham sempre um valor relativo.
Um pôster desenhado por Alton Kelly anunciando um concerto dos Doors em 1968 não pode ser reproduzido. Mas apenas copiado. Assim, o que interessa ao comprador é apenas uma primeira edição.
Na Bonhams, um lote de primeiras edições da Lead foi colocado à venda por US$ 90 mil. Uma curiosidade, na mesma faixa de preço, são os pôsteres produzidos pela East Totem West -círculos de metal onde uma geléia colorida se mistura às pinturas.
Outra característica desse tipo de arte é que seus realizadores acreditavam estar participando de uma causa. São obras que, para alguns, mantinham uma mensagem subliminar em relação às drogas.
Mas elas funcionavam também como uma forte forma de propaganda. "Se as pessoas gostam do pôster, certamente não vão perder o baile", era o lema dos artistas do período.
E por baile pode se entender um show do guitarrista John Mayall, um festival de filmes do cineasta Roger Corman ou um Encontro Nacional para a Paz no Mundo.
O fato de agora estarem saindo do círculo de pequenos colecionadores, saudosistas da era psicodélica, mostra mais uma tentativa, por parte do mercado, de apropriação de uma fenômeno cultural.
E provoca em seus autores um grande espanto. Como os californianos Mouse e Kelly já afirmaram no melhor espírito hippie: "Essas não são obras de arte. São obras de amor".

Próximo Texto: Colecionadores sofrem fraudes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.