São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Grasse é a capital mundial da perfumaria

NICOLAS MARTIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A atividade da capital dos perfumes não depende do milhão de visitantes registrados, como poderia pensar quem dá uma volta pelas ruelas da cidade velha.
Grasse, que nos dias calmos exala um ambiente quase da Idade Média, é há séculos uma cidade comercial abastada, voltada às relações internacionais.
Devido a esses contatos internacionais antigos as 30 fábricas de perfume de Grasse vendem seus produtos ao mundo inteiro. Matérias-primas de diversos países são encaminhadas a Grasse.
Hoje em dia, quando a maioria das plantas e das essências naturais que chegam a Grasse são importadas, ainda se encontra rosas, alfazema, tuberosas e laranjeiras nos jardins da cidade.
No jardim da Villa Noailles, da Villa Fragonard e no jardim antigo da Princesse Pauline crescem plantas que antigamente eram cultivadas e colhidas em enormes quantidades na região. A Villa Beaubourg e a Fondation Maeght, em Vence, criam uma harmonia única de flores e arte contemporânea.
São os perfumes que atraem os visitantes à cidade. Turistas do mundo inteiro visitam as perfumarias abertas ao público, onde guias lhes explicam a técnica de fabricação do perfume.
O Museu Internacional da Perfumaria, inaugurado em 1989, conta 4.000 anos de história da perfumaria e mostra a contribuição importantíssima de Grasse.
A história foi generosa com Grasse, a "irmã menor" de Gênes. Influências italianas dão um ar pitoresco à cidade.
Construídas em sua maioria na Idade Média, as casas frequentemente ostentam fachadas restauradas nos séculos 17 e 18. Na praça aux Aires, bela com suas arcadas onde antigamente os curtidores expunham seus couros, há barracas de flores e temperos.
Com pequenas charretes puxadas por burros eles carregavam seus barris de destilação para as montanhas nas cercanias de Grasse, colhiam suas flores silvestres e extraíam o perfume diretamente, a céu aberto, usando caldeirões de cobre e vapor d'água.
Isso graças à descoberta árabe que revolucionou as técnicas de produção no século 16, o alambique. Com a ajuda dele os perfumistas camponeses de Grasse podiam extrair o perfume das plantas sob a forma de óleos eterizados.
Uma descoberta do monge italiano Mauritius Frangipani foi igualmente pioneira.
Ele percebeu que as essências são solúveis em álcool de vinho e criou um método para a conservação dos perfumes no álcool, facilitando sua fabricação.
Hoje, quase 400 anos mais tarde, a técnica da produção pela destilação foi aperfeiçoada. Além disso a indústria da perfumaria está obtendo novos perfumes por métodos químicos e sintéticos, com os quais os pioneiros da perfumaria sequer teriam sonhado.
A fabricação da essência de jasmim ou de rosas ainda desempenha papel importante em Grasse.
Para obter uma tonelada de flores de jasmim, uma colhedora precisa trabalhar 2.000 horas. Um milhão de flores colhidas à mão rendem um quilo de jasmim.
É fácil entender porque as essências obtidas dessa maneira custam mais caro do que ouro.
Um litro da mais pura essência de rosas custa entre US$ 12 mil e US$ 20 mil. Com um litro de essência absoluta pode-se produzir 3.000 litros de perfume altamente concentrado.
Os perfumes fabricados à base de compostos químicos entraram em cena já nos anos 20. O exemplo mais célebre, o lendário Chanel nº 5, criado em Grasse, contém apenas substâncias químicas.
O procedimento de análise de espectroscopia (técnica baseada na observação da absorção e emissão de substâncias) de massa permitiu a fabricação de perfumes inteiramente novos, e assim reduziu sensivelmente o custo de produção.

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