São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Líder da CUT afirma que também quer as reformas

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Nós também queremos as reformas". Na boca do presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, a frase soou estranha.
Chamada de "bicho-papão" pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, a CUT vem sendo identificada como um dos principais entraves à reforma constitucional.
Em entrevista à Folha, Vicentinho rejeita o rótulo de líder de uma organização "do contra". O que há, segundo a sua ótica, é "uma desconfiança generalizada por parte do governo".
Seu raciocínio é resumido em poucas palavras: "Queremos uma reforma que seja boa para os trabalhadores e para o país. Se sentássemos todos juntos, queria ver se fazíamos ou não fazíamos essa reforma", disse.
Ouvido pela Folha, Paulo Paiva, ministro do Trabalho, disse que o governo convidou a CUT para compor um grupo de análise das reformas. "Estamos esperando uma resposta", disse.
"A Força Sindical aceitou conversar e já foram feitas duas reuniões sobre Previdência."
Nos próximos dias 2, 3 e 4 de maio, a CUT reúne sua direção nacional. Um dos temas da pauta será a discussão sobre a conveniência de a entidade abrir ou não uma frente de negociação com o governo federal.
Há diferenças conceituais entre as mudanças que frequentam a cabeça do homem-forte da CUT e as propostas encampadas pelo governo no Congresso. Mas há também surpreendentes coincidências de pontos de vista.
Tome-se o caso da Previdência Social, a mais polêmica de todas as reformas. Até mesmo neste tópico há campos de convergência entre o que pensa Vicentinho e o que deseja o governo.
Um deles é o teto máximo para as aposentadorias. Vicentinho defende que um aposentado deve receber, no máximo, dez salários mínimos. Reinhold Stephanes, ministro da Previdência e mentor das propostas do governo, defende publicamente o mesmo teto.
Para os trabalhadores que desejarem furar o limite de dez salários, Vicentinho acha que deveria ser assegurado o acesso a um sistema de aposentadoria complementar, público ou privado.
Em outras palavras, o trabalhador teria de pagar mais para ter uma aposentadoria maior, num sistema que é defendido também pelo ministro Stephanes.
Quanto aos servidores públicos, que hoje dispõem de aposentadoria integral (pensão de inativo igual ao salário que recebia em atividade), o presidente da CUT acha que deveriam ser igualados aos trabalhadores da iniciativa privada.
Os funcionários públicos receberiam, assim, aposentadorias que não excedessem dez mínimos.
A tese da mudança na sistemática de aposentadorias do serviço público encontra em Stephanes um defensor ardoroso.
Quanto às divergências, as principais são as seguintes:
1) A CUT quer uma auditoria na contabilidade da Previdência. O governo confia nos seus números e acha a medida desnecessária;
2) A CUT quer manter a aposentadoria por tempo de serviço aos 35 anos. O governo defende que a aposentadoria se dê exclusivamente por idade, aos 65 anos;
3) A CUT advoga uma discussão lenta. Quer a retirada do projeto da Previdência do Congresso. O governo quer as reformas para ontem e argumenta que a manutenção do projeto não prejudica eventuais discussões.
Há outras divergências, não relacionadas à Previdência. Vicentinho diz que o governo está começando a reforma pelo final.
Acha que o primeiro ponto da discussão deveria ser a reformulação do sistema tributário. Um tema que Fernando Henrique quer deixar para mais tarde.
O presidente acha que, enviado agora, o projeto tributário tumultuaria ainda mais a vida do governo no Congresso.
Assim como a reforma da Previdência, a mudança na repartição dos tributos deve ser apaixonada. Estão em jogo os interesses de Estados, municípios e da União.
A despeito de ter programado o debate sobre a conveniência de dialogar com o governo, a CUT mantém o calendário de manifestações que têm sonorizado os deslocamentos de Fernando Henrique com vaias e chavões anti-reforma.
Estão programadas para 25 de abril manifestações em vários Estados. Vicentinho disse que serão atos pacíficos.
Segundo ele, a direção da CUT não apóia violência como a praticada em Recife, onde manifestantes jogaram pedras e paus no ônibus em que estava FHC. "Isso não foi feito por gente da CUT".

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