São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Poetas têm papel educativo, diz etnólogo

ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NEUCHÂTEL

O etnólogo Jean-Louis Christinat, 60, disse que fica admirado com o fato de o cordel sobreviver no Brasil, apesar da penetração da televisão e de outras mídias em todo o país.
"Me pergunto por que os jovens querem comprar o folheto sobre a morte do Ayrton Senna! Já viram na televisão, já leram nos jornais mas querem ter o folheto."

Folha - O sr. acha que o publico suíço que vê a exposição pode compreender o que é a literatura de cordel?
Jean-Louis Christinat - Creio que sim. A exposição não aborda o aspecto literário propriamente dito porque haveria um problema de idioma. Do jeito que está feita, não importa que o público não compreenda os textos dos folhetos, mas sim a importância e a finalidade dessa literatura que é divertir e informar.
Folha - Qual o objeto de suas pesquisas no Brasil?
Christinat - Não sou estudioso da língua, sou etnólogo e o que me interessa é o que está por trás do fenômeno cordel. Quero conhecer o poeta, o gravador, o vendedor e o consumidor dessa literatura. Quero saber como vivem e, se possível, como se tornam poetas.
Vou ao mercado de São Christóvão, no Rio, e me pergunto por que os jovens querem comprar o folheto sobre a morte do Ayrton Senna! Já viram na televisão, já leram nos jornais mas querem ter o folheto.
Deve haver uma razão e isso me interessa. Apesar de toda a mídia, a literatura de cordel continua viva, não está morrendo não!
Folha - O que o sr. já aprendeu nessas pesquisas?
Christinat - O poeta popular é uma pessoa muito interessante e a vida de cada um deles poderia ser objeto de um livro. Minhas relações com os poetas, principalmente no Rio e em Pernambuco, não são as de um estudioso.
Fiz amizade com muitos deles, frequento suas casas, conheço a mulher e os filhos. São gente muito boa, simples e interessante.
O poeta tem consciência que desempenha um papel importante na sociedade, uma espécie de tradutor dos acontecimentos para a fala popular. É um papel educativo tremendo!
Folha - Quando o sr. pretende publicar esses estudos?
Christinat - Minha primeira finalidade é conhecer essas pessoas e compreender o fenômeno. Dentro de alguns anos vou começar a escrever, mas primeiro preciso aprender.

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