São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Papa divide Via Crucis com fiéis não-católicos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O papa João Paulo 2º rompeu a tradição católica ontem durante as cerimônias da Via Crucis, que representam o trajeto percorrido por Jesus Cristo há quase 2.000 anos com uma cruz às costas, antes de ser executado por tropas romanas em Jerusalém.
Pela primeira vez, fiéis de outras religiões foram convidados a partilhar com o papa a tarefa de carregar uma cruz de madeira pelas ruas de Roma.
Segundo o porta-voz do Vaticano, monsenhor Joaquín Navarro Valls, o objetivo da mudança foi destacar o caráter ecumênico das cerimônias da Semana Santa.
Ecumenismo é a doutrina que prega convivência e diálogo com outras religiões.
Uma religiosa ligada a uma igreja protestante suíça e um sacerdote do Patriarcado Ortodoxo Russo estavam entre os convidados a participar da Via Crucis.
João Paulo 2º carregou a cruz de madeira, de 2 m de altura, por apenas 3 das 14 "estações da Via Crucis (pontos que representam episódios da vida de Cristo), entre o antigo Coliseu e a colina do Palatinado.
Valls negou versões da imprensa italiana, de que a mudança na cerimônia resultou do estado de saúde do papa. Ele completa 75 anos em maio e caminha com dificuldade devido à fratura do fêmur da perna direita, que sofreu numa queda há cerca de um ano.
À tarde, João Paulo 2º manteve a tradição que ele mesmo estabeleceu na Sexta-Feira Santa de 1980, de ouvir as confissões de 12 católicos na Basílica de São Pedro.
Após uma cerimônia de que participaram cerca de 1.000 pessoas, o papa, vestido com um manto branco, colocou um solidéu preto de padre em sua cabeça e ocupou por 90 minutos um dos confessionários da basílica.
"Todos queriam ter suas confissões ouvidas, mas isso representaria uma semana de trabalho sem dormir. Graças a Deus que há outros confessores, afirmou.
À noite, durante a Via Crucis, João Paulo 2º apelou aos cristãos para que peçam perdão por ter "rechaçado os judeus e tê-los "insultado em sua liturgia.
"Que o Senhor, que os escolheu como os primeiros a quem anunciou sua palavra, os ajude a prosseguir sempre no amor e na fidelidade de sua aliança, afirmou o papa sobre os judeus.
Na liturgia da tarde, porém, na praça de São Pedro, foram pronunciados pelos celebrantes os "impropérios, versículos com críticas aos judeus que, segundo os Evangelhos, foram ditos por Cristo pouco antes de morrer.

Texto Anterior: Tchetchênia resiste a nova ofensiva de tropas russas
Próximo Texto: Juiz manda 'prender' estátua
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.