São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Japão mantém exportações com moeda supervalorizada

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A supervalorização do iene frente ao dólar norte-americano não será suficiente para derrubar significativamente o saldo na balança comercial (exportações menos importações) do Japão.
Essa é a opinião de economistas japoneses ouvidos pela Folha. Eles dizem que a indústria do país está preparada para a situação adversa atual.
O iene valorizou-se frente ao dólar 16,45% este ano. Na segunda-feira passada, a moeda bateu na sua cotação mais alta, de 80,15 ienes por dólar.
Com o iene fortalecido, os produtos japoneses passam a custar mais caro fora do Japão.
Um norte-americano, por exemplo, que comprava um videocassete japonês por 10 mil ienes no final do ano passado teria de desembolsar aproximadamente US$ 100. É que no final de 94 um dólar valia em torno de 100 ienes. Quando a moeda japonesa se valorizou na semana passada, o mesmo videocassete poderia sair até por US$ 125 -pois US$ 1 chegou a valer pouco mais de 80 ienes.
Este raciocínio matemático levou analistas em todo o mundo a prever problemas para o setor exportador japonês. Só que há outros componentes na conta.
São cinco as razões principais para que o Japão mantenha um superávit comercial, ainda que menor, apesar do iene fortalecido:
1) Os produtos japoneses conquistaram nichos de mercado em todo o mundo e não têm competidores que possam roubar espaço da noite para o dia.
2) As empresas do país se prepararam para a valorização da moeda. Investiram em tecnologia, cortaram custos e internacionalizaram-se -construindo fábricas em outros países.
3) O setor exportador de automóveis e bens duráveis (eletrodomésticos, por exemplo) importa grande parte dos componentes e matéria-prima utilizados na fabricação desses produtos. Com o iene fortalecido, gastam menos para fazer essas compras no exterior.
4) A indústria já previa uma valorização do iene. Apesar de a alta ter ficado acima das expectativas, os empresários apostam que a cotação média da moeda fique em torno de 90 ienes por dólar.
5) Os Estados Unidos já propuseram uma ação conjunta dos bancos centrais dos países desenvolvidos para conter uma queda desenfreada do dólar. Embora isso não seja garantia de que a moeda norte-americana interrompa sua queda, o simples anúncio da estratégia já tranquilizou os mercados.
"Com o iene valorizado, e acho que vai ficar assim, as empresas terão que continuar a reduzir os seus custos. Isso significa demitir funcionários. Todos terão que aprender a conviver com a nova força da moeda", diz o economista e analista industrial Toshikazu Uchikoshi, 41, do Instituto de Pesquisas Daiwa.
Segundo Uchikoshi, os preços dos produtos japoneses "devem permanecer competitivos" no mercado internacional. "Mas isso resultará numa queda no lucro das empresas", diz.
Para o Instituto de Pesquisas Econômicas do Banco de Crédito de Longo Prazo do Japão ("Long-Term Credit Bank", conhecido pela sigla LTCB), o saldo da balança comercial em 95 deve ser de US$ 132,2 bilhões.
O saldo comercial no ano fiscal de 93 foi de US$ 143 bilhões. Se confirmadas as previsões do LTCB -uma instituição acostumada a acertar-, a queda no saldo da balança comercial em 95 será de 8,2% em relação a 93.
O LTCB prevê que o Japão exporte US$ 420,4 bilhões no ano fiscal 95, um salto de mais de 6% em relação a 94. Já as importações devem bater em US$ 288,2 bilhões, o que significa um crescimento de cerca de 15% sobre 94.
Para Kenichi Takayasu, 35, economista sênior do Instituto Sakura de Pesquisa, financiado pelo Banco Sakura, o setor que mais sofrerá por causa do iene forte é o de eletrônicos para uso doméstico. "Há muitas fábricas no sudeste asiático e na China", diz.
"Já os fabricantes de semicondutores e circuitos eletrônicos continuarão a se dar bem nas exportações, pois há uma demanda grande desses produtos no exterior", afirma Takayasu.
O LTCB acaba de divulgar uma pesquisa com 1.607 empresas do Japão. A conclusão é uma surpresa: pela primeira vez, depois de três anos de redução e cortes, as indústrias japonesas aumentarão o seus investimentos em 95.
Para o ano fiscal 95, o aumento dos investimentos será de 1,2% em relação ao ano anterior. Segundo Takayuki Tanaka, economista sênior do Instituto de Pesquisas Econômicas do LTCB, apesar de a recuperação ser pequena, "mostra que o fundo do poço já foi atingido no ano passado".
Especialista em previsões econômicas de curto prazo (leia texto nesta página), Tanaka diz que o LTCB revisou as suas previsões de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) da economia japonesa.
O PIB (soma de tudo o que um país produz durante um ano) deve crescer 2,1% este ano no Japão, segundo o LTCB.

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