São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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VESTIDOS PARA TRABALHAR

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O ritual matutino de uma parcela de executivos brasileiros está se transformando. Aos poucos, é verdade, e apenas uma vez por semana. É o chamado "casual day".
Nesse dia, gravatas e paletós permanecem nos guarda-roupas e peças de um autêntico fim-de-semana, como jeans e camisetas, viram roupas de trabalho.
Essa mudança acontece com o aval da cúpula da empresa -que muitas vezes também aposenta o costume e o colarinho engomado.
Cerca de 70% das grandes companhias norte-americanas atualmente fazem essa concessão a seus funcionários. No Brasil, as experiências são mais raras -o que
não significa que sejam recentes.
A importadora e exportadora dealimentos Coinbra adotou essa fórmula há 20 anos, quando seu escritório em São Paulo era tocado por cerca de 30 funcionários -todos engravatados em dias normais.
"Abolimos o trabalho aos sábados e liberamos as roupas informais às sextas-feiras", explica Jacques Trefois, 58, diretor-executivo da Coinbra. A empresa emprega hoje 150 profissionais.
"Acreditamos que a descontração no último dia de trabalho da semana permite ao funcionário aproveitar melhor sua folga", diz.
A Andersen Consulting introduziu a "casual friday" nas filiais brasileiras no início de 94. Mas a nova regra só foi levada a sério quando um consultor da matriz norte-americana entrou na filial de São Paulo, vestindo jeans rasgado. "Confesso que ainda não me acostumei com as gravatas e acho um alívio me livrar delas, principalmente nos dias de calor", diz o consultor Renato Carvalho, 24.
Nem tudo é permitido em um autêntico "casual day". Existem normas que variam conforme a cultura própria da empresa. A informalidade é a regra -desde que não prejudique os negócios.
Por isso, um consultor da Andersen Consulting ainda corre o risco de envergar terno e gravata em plena sexta-feira. Depende do cliente que ele vai atender.
Em geral, as empresas deixam a escolha das roupas a cargo de seus funcionários. Vale o bom senso na troca do indefectível terno -ou tailleur- pelo traje informal.
Isso faz com que as pessoas nem sempre tirem do guarda-roupa suas peças preferidas. Elas se policiam, sabem que vão se vestir para o trabalho e ponderam na ousadia.
A American Express, por exemplo, adotou o "casual day" em janeiro, por insistência dos funcionários. Até agora, entretanto, camisa fora da calça e camiseta ainda são artigos raros.
"Comprei uma blusa sem gola mas não me senti à vontade para usá-la na sexta-feira", diz Jorge Fornari Gomes, 47, vice-presidente de Recursos Humanos.
Em outros casos, a própria empresa deixa claro os limites. Os recém-contratados da Coinbra, por exemplo, são aconselhados a não usar camisetas com propaganda
política ou de times de futebol.
"Toleramos trajes esportivos. Mas o escritório não pode ser transformado em praia", pondera o diretor-executivo.

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