São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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QUEM É HECTOR BABENCO

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Hector Eduardo Babenco, 48, tem uma trajetória singular no cinema brasileiro. Nascido em Buenos Aires, Argentina, em 1946, vive desde 1969 em São Paulo. Naturalizou-se brasileiro pouco antes de realizar seu terceiro longa-metragem, "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia" (1977).
Antes de ser cineasta, fez de tudo na Argentina, no Brasil e na Espanha: foi carregador de malas em hotel, fotógrafo lambe-lambe, figurante de faroeste espaguete, vendedor de jazigos etc.
Estreou no cinema em 1973 com um documentário sobre Emerson Fittipaldi. Em 1975, realizou seu primeiro longa de ficção, "O Rei da Noite", um drama ambientado no submundo paulistano nos anos 30 e 40.
Mas foi com "Lúcio Flávio", empolgante reconstituição da trajetória do famoso ladrão de bancos carioca, que inscreveu seu nome entre os dos grandes cineastas realistas contemporâneos.
Em pleno regime militar, o filme tocava em temas explosivos como o "esquadrão da morte" e a corrupção da polícia.
Seu filme seguinte, "Pixote, a Lei do Mais Fraco" (1980), retrato sem retoques da vida dos pequenos marginais de São Paulo e do Rio, abriu-lhe as portas do mercado internacional. O filme ganharia o prêmio de melhor filme estrangeiro da crítica de Nova York e apareceria em diversas listas internacionais dos melhores da década.
"O Beijo da Mulher Aranha" (1984), inspirado no romance homônimo do argentino Manuel Puig, foi uma co-produção internacional rodada em São Paulo, falada em inglês e estrelada por atores americanos (Raul Julia, William Hurt) e brasileiros (Sonia Braga, José Lewgoy).
Ao mesclar a temática política e a comportamental (um militante comunista e um homossexual dividiam uma cela de cadeia), o filme obteve grande sucesso, sobretudo depois que William Hurt (que interpretava o homossexual) ganhou o Oscar de melhor ator.
Depois disso, Babenco resolveu filmar nos Estados Unidos, por considerar, segundo suas palavras, que não tinha condições de fazer no Brasil os filmes que queria.
Seu primeiro trabalho nos EUA foi uma sensível adaptação do romance "Ironweed" (publicado no Brasil como "Vernônia"), de William Kennedy, que escreveu também o roteiro.
Para os papéis principais -um ex-jogador de beisebol e uma ex-cantora, ambos bêbados e decadentes-, Babenco chamou ninguém menos que Jack Nicholson e Meryl Streep, os dois mais prestigiosos atores de Hollywood.
Lançado na época do Natal, o filme fracassou nos EUA por ser considerado demasiado lento, sombrio e deprimente.
Em seguida, Babenco voltou ao Brasil -mais precisamente à Amazônia- para filmar uma adaptação do romance "Brincando nos Campos do Senhor" (1990), de Peter Mathiessen, com produção de Saul Zaenz.
Com um milionário elenco que incluía Tom Berenger, Daryl Hannah, Kathy Bates e John Lithgow, o filme mergulhava no caldeirão de culturas e interesses econômicos que incendeia a região.
Por recusar uma abordagem simplista e maniqueísta do assunto, o filme deixou perplexos espectadores e críticos pelo mundo afora (incluindo o Brasil) e só mais recentemente conheceu uma relativa reabilitação com o sucesso de seu lançamento em vídeo.
Desde então, Babenco não conseguiu realizar outro longa. Depois de um projeto frustrado por divergências com os produtores americanos ("Alicia's Book"), ele tenta há dois anos viabilizar a produção de um filme parcialmente autobiográfico, "Foolish Heart", escrito em parceria com o ficcionista argentino Ricardo Piglia.

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