São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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QUEM É ARNALDO JABOR

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Arnaldo Jabor, nascido no Rio de Janeiro em 1940, seguiu a mesma trajetória de Cacá Diegues e de nove entre dez representantes do Cinema Novo: universidade - jornalismo - cinema. Tudo isso passando, como era óbvio na época, pela militância de esquerda.
Foi crítico de teatro e cinema no jornal "O Metropolitano" (da PUC-RJ) e na revista "Movimento" antes de estrear no cinema, por influência direta de seu amigo Cacá Diegues.
Seu primeiro longa-metragem, "Opinião Pública", é um documentário que registra os lugares-comuns do discurso cotidiano. Seu filme seguinte, "Pindorama", é um delírio tropicalista ambientado no século 16 e hoje renegado pelo diretor. Realizado com alto custo (bancado por Walter Hugo Khouri e pela distribuidora Columbia), foi um fracasso absoluto de bilheteria.
Foi com seu terceiro longa, "Toda Nudez Será Castigada" (1973), que Jabor encontrou seu tema e seu estilo. Considerado até hoje a melhor adaptação cinematográfica de uma obra de Nelson Rodrigues, o filme é uma tragicomédia brasileira que expõe o inferno moral da classe média em toda a sua comovente boçalidade.
Desde então, Jabor tem sido considerado pela crítica um dos mais talentosos diretores do país, sobretudo no tratamento do universo moral, afetivo e sexual da classe média.
Tem um refinado senso do ritmo e da música, além de uma notável sensibilidade na direção de atores. Não por acaso, Fernanda Torres ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes por "Eu Sei que Vou Te Amar" (1985).
Depois de "O Casamento", outro bom filme inspirado em Nelson Rodrigues (e o último interpretado por Adriana Prieto), Jabor enveredou para um cinema cada vez mais fechado entre quatro paredes, primeiro com uma alegoria do jogo de classes no país -"Tudo Bem"- e depois com dois estudos sobre a relação amorosa: "Eu Te Amo" e "Eu Sei que Vou Te Amar".
Em todos eles, percebe-se ainda a influência marcante de Nelson Rodrigues, sobretudo nos diálogos. Todos conquistaram um expressivo sucesso de público ("Eu Sei que Vou Te Amar" foi visto por 4 milhões de brasileiros) e fizeram carreira internacional.
Talvez por ter chegado a um beco sem saída nessa tendência claustrofóbica (o que viria a seguir? um monólogo?), e certamente também pelas dificuldades da produção cinematográfica no país, Jabor não realiza um longa-metragem desde "Eu Sei que Vou Te Amar" -ou seja, há dez anos.
Nos últimos quatro anos, em que trocou o Rio por São Paulo, tem-se dedicado com grande sucesso ao jornalismo, como colunista da Folha, e à direção de filmes de publicidade.
Seu livro "Os Canibais Estão na Sala de Jantar" (Siciliano), que reúne suas melhores colunas na Folha, ficou durante várias semanas nas listas dos mais vendidos.
Tem sido um dos intelectuais mais influentes e controvertidos no panorama político e cultural brasileiro dos últimos anos, com seus artigos sobre o ambiente ideológico que cerca (a favor e contra) o governo FHC.
Foi um dos vencedores do concurso promovido em 93 pelo Banespa para financiamento de longas-metragens, com o projeto de adaptação do conto "Senhorita Simpson", de Sérgio Sant'Anna, mas não conseguiu, até o momento, viabilizar a produção do filme.
Sonha ainda com a realização de um grande musical -gênero em que, no seu entender, o Brasil ainda não produziu uma grande obra.
Uma refilmagem, em forma de musical, da comédia "Ladrões de Cinema" (1977), de Fernando Cony Campos, está em seus planos.

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