São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Invenções criadas para vender

CLAUDINÊ GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE GENEBRA

Quem percorreu o maior salão de invenções do mundo, o de Genebra, Suíça, este ano, teve a impressão de que o clichê do inventor maluco está cada vez mais obsoleto.
A imensa maioria das mil invenções inéditas apresentadas está muito perto do mercado, aptas a serem rapidamente comercializadas, como se a crise econômica dos últimos anos tivesse dado um choque de realismo nos inventores.
O primeiro prêmio do salão, por exemplo, foi atribuído a um holandês que criou um sistema de enchimento misto água-ar para a fabricação de colchões e travesseiros ortopédicos.
Outro invento que se destacou no Salão foi o "airbag" para melhorar a segurança do paraglider (veja foto), esporte que tem causado acidentes graves. Não são raros os casos em que o praticante acaba paraplégico.
Acoplado ao equipamento, o sistema inventado por um suíço tem três válvulas frontais e infla automaticamente o assento na decolagem.
Segundos depois, as válvulas se fecham e o piloto voa sentado na "poltrona-airbag". Em caso de acidente ou de pouso em condições difíceis, a bacia e a coluna têm um mínimo de proteção, o que não ocorre atualmente.
O robô francês para trabalho na floresta também responde a duas exigências econômicas, o custo da mão-de-obra e dos acidentes de trabalho.
Na mesma linha está o tijolo com encaixe, que torna quase impossível o acabamento malfeito.
Previsto inicialmente para a construção de lareiras, o sistema dispensa o trabalho de um pedreiro profissional, cuja hora de trabalho em países desenvolvidos pode chegar a 80 dólares.
Um pouco mais futurista é a bicicleta para neve, com um esqui na roda dianteira e esteiras na roda traseira.
Os testes mostram que funciona perfeitamente. O inventor pretende comercializá-la como opção de lazer a ser oferecido nas estações de esqui.
Os três brasileiros que participaram do Salão de Genebra este ano, todos de Belo Horizonte, também estão na mesma tendência de proximidade ao mercado.
Rômulo Cortez de Paula, 32, engenheiro mecânico e analista de sistemas, ganhou medalha de bronze atribuída pelo júri internacional.
Inventou um hidrômetro (aparelho que mede consumo de água) eletrônico e digital que, acoplado à linha telefônica, permitiria uma leitura instantânea do consumo de uma cidade inteira.
Isso dispensaria a leitura de campo e simplificaria o faturamento. Ele garante que os custos do sistema seriam cobertos em apenas um ano.
Cesar Duarte Reis, 43, também ganhou medalha de bronze por seu sistema de fixação de bobinas para o transporte rodoviário. Aumenta a segurança e a rentabilidade no transporte porque é adaptável a qualquer carroceria.
Rodrigo Cunha Junior, 32, também trouxe dois inventos a Genebra: um volante com punho giratório para facilitar manobras em condições difíceis e o sistema de "janela ativa para automóveis", que evita a compressão de ar dentro do veículo, uma das causas da surdez progressiva.
Os inventores mineiros esperam que as medalhas obtidas em Genebra sirvam de estímulo à Associação Mineira dos Inventores e aos demais projetos em andamento.

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