São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Socialistas preparam era pós-Mitterrand

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

A esquerda já se prepara para a derrota de Lionel Jospin na eleição presidencial francesa.
No primeiro turno, no próximo domingo, o candidato do Partido Socialista é favorito na disputa contra o primeiro-ministro Edouard Balladur por uma vaga na decisão contra Jacques Chirac, o prefeito de Paris. Mas a vitória no segundo turno é improvável.
A pesquisa final da revista "Le Nouvel Observateur" dá 26% para Chirac, 21% para Jospin e 19% para Balladur. Na última semana de campanha, a divulgação de sondagens é proibida.
Segundo esse levantamento, no segundo turno, em 7 de maio, Chirac derrotaria Jospin por 58% a 42%. O socialista terá três semanas, a contar de hoje, para tirar oito pontos de desvantagem.
Muitos na esquerda acham que para se renovar o PS deve deixar o poder, após os 14 anos de François Mitterrand na Presidência.
"Há quem diga que, se Jospin não for ao segundo turno, isso facilitará as coisas para o PS", diz o sociólogo Alain Touraine. Ele defende um "golpe" de Estado no partido, como o que levou Mitterrand à direção do PS, em 1971.
"Se no segundo turno Jospin ficar mais perto dos 50% que dos 40%, será difícil recusar-lhe a liderança do PS", comentou o jornal "Le Monde".
Depois da eleição, "mitterrandistas", "jospinistas" e "deloristas" (aliados de Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Européia) deverão disputar o controle do partido.
Touraine prefere como líder Martine Aubry, 44, ex-ministra do Trabalho e filha de Delors. Ela daria ao partido uma orientação social-democrata.
"Disse a ela que é preciso pôr fogo em tudo e afogar 200 a 300 pessoas", brinca Touraine. Nesta eleição, Delors seria o único nome da esquerda com chance de vitória -embora uma piada dentro do PS afirme que o melhor candidato seria Mitterrand.
Mas Delors anunciou em dezembro que não seria candidato, por julgar impossível obter uma maioria para governar no Parlamento -e por discordar de muitas idéias do PS.
"Ele teria sido eleito", acredita Touraine. "Mas acho que tinha razão ao não se candidatar". O sociólogo prevê, no entanto, que uma esquerda social-democrata possa voltar ao poder em breve: "Acho normal que a direita vença. Mas, se a esquerda não for muito estúpida, pode recuperar terreno já na próxima eleição legislativa".
Os "chiraquianos" temem um segundo turno contra Balladur. Chirac seria o franco favorito -venceria por 58% a 42%, segundo "Le Nouvel Observateur"-, mas a disputa racharia de vez a RPR (Reunião Pela República), partido de ambos.
"Seria a pior das soluções, mas não acredito que isso aconteça", diz o deputado Antoine Joly, um dos coordenadores da campanha de Chirac.
Nas últimas semanas de campanha, "balladurianos" e "chiraquianos" redobraram a violência dos ataques mútuos. As pesquisas indicam que o eleitorado de direita ainda oscila entre os dois.
É de Chirac que Balladur tem que tomar os votos de que precisa. Mas, apesar dos esforços do premiê para se tornar "popular, sua imagem ainda é elitista.
"Balladur encarna de maneira quase caricata o burguês francês, no estilo, na linguagem e nas declarações. Às vezes parece saído de um romance de Flaubert", ironiza Pierre Rosanvallon, intelectual que apóia Jospin.

Esquerda
A vitória de Chirac seria um prêmio à estratégia que ele adotou no início deste ano, optando por um discurso mais à esquerda. Isso lhe valeu ironias dos adversários e da imprensa, mas, coincidência ou não, foi a partir de então que sua candidatura decolou nas pesquisas.
Chirac se inspirou nas idéias do sociólogo Emmanuel Todd, para quem o voto da classe operária decidirá a eleição. Quando o prefeito de Paris ainda estava em terceiro nas pesquisas, Todd já previa: "Os eleitores de Chirac ainda não sabem que vão votar nele".
Vários intelectuais de esquerda e ex-aliados de François Mitterrand -até mesmo Frédéric Mitterrand, sobrinho do presidente e apresentador de TV- passaram para o lado de Chirac.
Outra corrente de intelectuais, que inclui os filósofos Bernard-Henri Lévy e André Glucksmann (leia entrevista na pág. 1-25), prefere criticar a ausência de debate sobre política externa. Numa campanha que não entusiasmou, os franceses se preparam, de nariz torcido, para eleger Chirac.
Seja qual for o eleito, não haverá lua-de-mel com a população. O aumento do número de greves à medida que a eleição se aproxima mostra que haverá muito a fazer.
"Haverá um 'terceiro turno' social", adverte a candidata trotskista Arlette Laguiller, que pode chegar a surpreendentes 5%.

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