São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Vítimas da zona norte não tinham passado criminal

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Para os familiares dos mortos na chacina do Jardim Peri, o crime não tem explicação. "Só pode ter sido um engano", disse José Alberto dos Santos, 25, irmão de Raimundo dos Santos, dono do bar onde aconteceu o crime. Nenhum dos mortos tinha passagem pela polícia.
Segundo Antonio dos Santos, 27, irmão e antigo sócio de Raimundo, ele nunca teve problemas com os clientes. "Ele era popular, fazia festas para os moradores do bairro. Nunca brigou ou foi ameaçado por ninguém."
A perícia policial encontrou no bar um pacote com talões para jogo do bicho. Segundo Antonio, os talões eram usados para anotar os pedidos dos clientes.
O comerciante Waldir Araújo Campos, 23, amigo das vítimas e dono de um outro bar próximo, diz que nunca houve tráfico de drogas no local.
"O Raimundo não gostava que usassem drogas no bar dele. Uma vez, ele chegou a expulsar e bater em umas pessoas que queriam vender cocaína lá dentro", disse.
Segundo Campos, Oliveira e Sandra saíram de seu bar por volta das 2h30, e foram para o bar de Raimundo. "Eles foram esperar amanhecer para não acordar os pais, porque o portão da casa deles estava trancado", disse.
Aílton Oliveira, 17, irmão de Mário Sérgio, diz que o barulho dos tiros o assustou. "Cheguei em casa às 5h45, e logo depois ouvi os tiros. Fiquei preocupado porque vi que meu irmão ainda não havia voltado", disse.
Os tiros foram ouvidos pela maioria dos vizinhos, mas não chegaram a chamar a atenção. "Nós estamos acostumados com barulho de tiros. Todo dia tem alguém dando tiros para o alto por aqui", afirmou Orlando Romano, 49, vizinho do bar e tio de Sandra.
O feirante Paulo Francisco de Oliveira, 33, vizinho de frente do bar, diz que saiu para trabalhar pouco tempo após os tiros. "A porta do bar estava fechada, e o lugar parecia calmo", afirmou.
Segundo o delegado Percival Parente, 50, do 38º Distrito Policial, responsável pela área do Jardim Peri, o bairro tem vários pontos de venda de drogas.
Para ele, o aumento no número de assassinatos na região nos últimos meses se deve à prisão de alguns traficantes da área. "Isso motivou uma guerra pelos pontos de venda de drogas no bairro", disse.
"O modo como ocorreu o crime de ontem é característico de brigas de traficantes. É possível que se tratasse de cobrança de dívidas por drogas", afirmou Parente.
(RW)

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