São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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GRAXA X ESMALTE; METAMORFOSE

LARISSA PURVINNI
DA REPORTAGEM LOCAL

GRAXA X ESMALTE
Márcia Pete, 18, desafia machismo trabalhando em oficina mecânica
A imagem da garota Márcia Pete, 18, loira de olhos azuis, acompanha a rotina de mecânicos e clientes da central de operações da Asia Motors em Alphaville, em Barueri (Grande São Paulo). Márcia não é uma peladona de pôster, mas trabalha como mecânica da oficina.
Filha de pai e mãe mecânicos, ela cresceu aprendendo o ofício. Começou como mecânica aos 11. Fazia serviço leve: limpar carburador e trocar óleo. Aos 16, desmontava motores de 300 Kg.
Hoje, em seu departamento há dois engenheiros e cinco mecânicos -todos homens. Márcia é a regula o motor da Towner (perua com sete lugares) e faz o acabamento do veículo. Revisa os carros antes da entrega.
Entrou na empresa disputando vaga de recepcionista, na entrevista, entregou: "Não entendo de escritório, sou mecânica."
O diretor técnico Hudson Armênio Lopes decidiu dar uma chance e testá-la em um estágio; quando viu que ela entendia do assunto, resolveu contratá-la.
Márcia conheceu o namorado Sérgio Roberto de Oliveira, 21, auxiliar de departamento pessoal, na oficina dos pais. "Ela estava polindo o meu carro. Não estranhei. Já tinha ouvido comentários sobre ela."
A moça concluiu o 2º grau ano passado, quer fazer curso de técnica em mecânica e, depois, faculdade de engenharia mecânica.
Seus colegas de profissão são favoráveis à entrada de mulheres na área. "Elas são perfeitas para trabalhos que exijam precisão", diz Arlindo Polastrini, 51, dono de uma oficina no Butantã.
Henrique Yokohama, 43, proprietário de uma oficina no Itaim Paulista, diz que já foi procurado por três meninas que queriam emprego. "Penso em contratar moças, mas preciso construir um banheiro de mulheres."
Na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), única que oferece mecânica automobilística na graduação, apenas três dos 110 alunos do curso são meninas.
Uma delas, Patrícia Maranho, 24, formou-se em engenharia de produção em 94. Fez estágio na Mercedes-Benz e voltou para fazer automobilística. "Queria saber como funciona o motor."
Outra aluna da FEI, Marisol Hiva Blanco Garcia, 24, pretende trabalhar em uma montadora ou indústria de auto-peças.
Na USP, cerca de um quinto dos alunos do curso de engenharia mecânica são mulheres. Daniela Moraes Assalim, 19, é uma das cinco alunas do 2º ano. Os outros 70 são meninos. Ela começou a se interessar por carros na Feira do Automóvel, em 94. "Fiquei apaixonada", confessa.

METAMORFOSE
Márcia chega à oficina da Asia Motors às 8h30. Não se perfuma porque, segundo ela, perfume e graxa não combinam. "A reação entre os dois dá um cheiro esquisito". Ela também não pinta as unhas porque a gasolina estraga o esmalte. Já no trabalho, tira sua roupa de "menininha" e se fantasia de mecânica. Veste o macacão da empresa, prende o cabelo, para não cair no óleo e não enroscar em nada e coloca a botas de borracha (consideradas por ela "horrorosa"). Suas atribuições são receber os carros para revisão, anotar os defeitos, despachá-los para outros mecânicos e revisar carros zero km. No fim do dia, volta a sua aparência normal: toma banho e troca o macacão por uma pantalona. Passar perfume e um batom rosa clarinho

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