São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 1995
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Doenças reduzem safra da soja no MS

CARMEN BARCELLOS
ENVIADA ESPECIAL A CAMPO GRANDE

O Mato Grosso do Sul está perdendo em média 15% de sua safra de soja, devido a doenças causadas por fungos e vermes.
A produção recorde este ano, inicialmente estimada em 2,6 milhões de t, deverá cair para 2,2 milhões de t, segundo cálculos da Empaer (Empresa de Pesquisa e Extensão Rural do Estado).
Já foram colhidos 50% da área plantada de 1,07 milhão de hectares.
As maiores perdas devem-se ao cancro da haste, doença provocada por um fungo, que leva ao apodrecimento do caule da planta.
"Lavouras com capacidade para produzir 2.700 kg/ha estão rendendo apenas 2.000 kg/ha", diz Nilsso Zuffo, agrônomo da Empaer.
Ele avalia que só na região centro-norte, onde foi maior a incidência da doença, o Estado perderá R$ 340 milhões na arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Um dos municípios mais atingidos pelo cancro é São Gabriel do Oeste, responsável por 12% da produção do Estado.
"Já perdi 75 mil sacas de 60 kg de um total de 250 mil que esperava colher", diz Nilson Calabria, produtor de São Gabriel.
Cerca de 30% dos 5.500 hectares que plantou apresentam plantas secas, atacadas pelo fungo.
Na lavoura de 600 hectares de Almir Dalpasquale, também em São Gabriel, a quebra foi de 40%.
"Minha média de produtividade era de 40 a 45 sacas/ha, mas estou colhendo só 30", diz.
Segundo Zuffo, há casos isolados de agricultores que perderam até 80% da produção.
A expectativa de uma supersafra de soja no Mato Grosso do Sul foi gerada pelas boas condições climáticas. Não houve seca em nenhuma região.
Mas as chuvas e a alta temperatura que ajudaram no desenvolvimento das plantas favoreceram também a proliferação do cancro.
Outra doença que preocupa os agricultores é o nematóide de cisto. Trata-se de um verme que se instala na raiz da planta, suga a sua seiva e impede que ela cresça.
A doença chegou ao Mato Grosso do Sul na safra 92/93 e este ano já está causando prejuízos de 10% nas lavouras dos municípios de Chapadão do Sul e Costa Rica.
Sua ação pode ser mais devastadora do que a do cancro da haste, porque as fêmeas com os cistos (bolsas de ovos) permanecem no solo por até oito anos.
A disseminação dos vermes ocorre através do transporte de solo contaminado pelo vento, chuva, equipamentos agrícolas, animais e calçados.
No Mato Grosso do Sul ainda não existem sementes de soja resistentes ao nematóide de cisto.
"Estamos desenvolvendo pesquisas, mas os resultados só estarão no mercado dentro de três ou quatro anos", afirma Zuffo.
Para o cancro da haste, há cinco tipos de sementes resistentes, mas sua disponibilidade ainda é restrita a 30% da área plantada do Estado.
Zuffo explica que, tanto para o cancro como para o nematóide, a melhor solução, por enquanto, é a rotação de culturas.
A técnica consiste no plantio de outros produtos no lugar da soja, por dois anos consecutivos.
O nematóide de galha, a lagarta da soja e o percevejo também atacam as plantações do Estado, mas sem prejuízos tão acentuados.
LEIA MAIS Sobre a safra do MS na pág. 6-4

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