São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

As Vítimas Ocultas

MONICA SYDOW HUMMEL

Myanmar, 1993. A dra. Ma Thida tem como única fonte de iluminação em sua cela, a luz do dia. Está em regime de isolamento há mais de um ano, delgada e débil, com uma úlcera gástrica e problemas ginecológicos sérios. Está, hoje, com 28 anos. E se depender do governo ficará nessa situação até chegar aos 46 anos.
Seu "crime": participar de uma campanha organizada pelo principal partido de oposição do país, a Liga Nacional para a Democracia, e promover suas atividades. Para o governo, Ma Thida coloca em risco a ordem pública. Junto com a médica também se encontram mais 75 mulheres, dentre elas Daw Aung San Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz, fundadora e dirigente do LND.
China, 1995. Em setembro se realizará a 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher das Nações Unidas, tendo como temas a igualdade, o desenvolvimento e a paz. De mais esta reunião, serão tiradas declarações diplomáticas, belas intenções e um programa de ação.
O que nos preocupa, mais uma vez, é a ameaça de muitos países tentarem adotar falsos dilemas, como desenvolvimento ou liberdade, progresso ou justiça social, para justificar sua ação e omissão na proteção dos direitos fundamentais -universais e indivisíveis- de seus cidadãos. Dilemas, estes, que justificam as negociatas bélicas entre Estados e, sempre, resultam em milhares de mortes de civis inocentes.
As mulheres são as vítimas ocultas dos anos 90. Responsáveis, por um lado, pelos avanços qualitativos do desenvolvimento humano, por outro lado, vítimas preferenciais quando a barbárie se avizinha. Sofrem todo o tipo de violações praticadas contra homens, acrescidos os estupros e a discriminação.
A conferência será uma boa oportunidade para se promover avanços, não com a retórica pró-mídia mas com ações concretas e recursos assegurados. Não é possível assumir compromissos de paz e igualdade sem garantir todos os direitos humanos das mulheres.
A Anistia Internacional lançou no último dia 8 de março a campanha mundial "Mulher e solidariedade", visando acompanhar todos os preparativos das delegações nacionais para a Conferência de Pequim e divulgar a dramática situação da mulher em todas as latitudes.
Centenas de milhares de membros da Anistia, em dezenas de países, trabalharão durante o ano por vítimas de violações de direitos humanos.
Ma Thida é uma delas. Muitas outras, vítimas da violência doméstica e da miséria, reivindicam o fim da impunidade da banalização da vida e do rancor frígido.

Texto Anterior: Autora gaúcha escreve livro com mais de 7.000 páginas em 14 anos
Próximo Texto: Três pessoas morrem em chacina em SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.