São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 1995
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'Péricles' de Shakespeare chega ao Brasil

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Estréia na quinta-feira em São Paulo a primeira montagem brasileira da peça "Péricles, Príncipe de Tiro", do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616).
Foi concebida por Ulysses Cruz para o Teatro Popular do Sesi (Serviço Social da Indústria), dentro de um projeto de popularização do teatro. A entrada é franca.
"Apesar de pouco conhecida, a peça foi uma das mais encenadas pela companhia de Shakespeare", diz Cruz.
Escrita em 1608, "Péricles" está entre as últimas produções do dramaturgo, de caráter predominantemente romântico.
Recheada de desencontros, a história do príncipe de Tiro, separado da mulher e da filha recém-nascida após uma tempestade em alto-mar, seria o enredo de uma telenovela das oito, se Shakespeare vivesse hoje.
Segundo Cruz, "sempre que alguma montagem da sua companhia fracassava, Shakespeare a colocava de volta em cartaz. Era uma espécie de 'O Mistério de Irma Vap' da época".
Cruz recebeu do Sesi R$ 110 mil para montar uma superprodução. Seu "Péricles" traz à cena cachorros, gansos, um grupo de percussão tocando ao vivo, demonstrações de artes marciais e recursos emprestados do circo, da ópera chinesa e do teatro oriental.
"Lançamos mão de uma série de estilos para encantar a platéia, o que é bastante difícil hoje em dia. A peça precisa ser comunicada, é o que nos importa", diz o diretor.
Para o elenco, Cruz chamou veteranos como Cleyde Yáconis e Cláudia Mello, e atores menos experientes, como Leonardo Brício (o protagonista), Bel Kutner (filha de Dina Sfat) e Felipe Folgosi.
Os cenários e figurinos são de Hélio Eichbauer, cenógrafo da montagem de José Celso Martinez Corrêa para "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, em 1967.
Eichbauer soluciona de forma simples um dos maiores obstáculos para a montagem de "Péricles", a evolução da história em seis cidades diferentes entre África, Ásia e Europa.
Usa, como Shakespeare fazia, um cenário simples de palco elisabetano (palco frontal, palco inferior ao fundo, separados por cortinas, e piso superior).
A peregrinação de Péricles pelo Oriente é resolvida através dos figurinos, que mudam de cor a cada nova cidade.
O Grupo de Percussão do Instituto de Artes da Unesp se responsabilizou pela música. Toca trechos de jazz, música asteca, música minimalista e composições de Egberto Gismonti. Os atores cantam em várias passagens.
"O grupo tocando ao vivo era essencial. Shakespeare é música, sua poética é carregada de musicalidade", diz Cruz.
O elenco original de animais inclui cachorros, gansos, um carneiro, um papagaio e uma cobra.
Sua presença em cena depende ainda de acordo com a Sociedade Protetora dos Animais, que os proíbe em apresentações públicas.
"Todos os atores babam em cima dos bichos", diz Cruz. Para ele, os animais instalaram um clima de tranquilidade nos ensaios.
"Eles desmontam o Ulysses também. Ele, que costuma ser não apenas bravo, mas furioso, fica um doce por causa dos bichos", diz Cleyde Yáconis.
O Sesi continua o projeto de popularização do teatro em 1996 com a montagem de "O Mambembe", de Artur de Azevedo, dirigida por Gabriel Vilella.

Peça: Péricles, Príncipe de Tiro
De: William Shakespeare
Direção: Ulysses Cruz
Elenco: Cleyde Yáconis, Leonardo Brício, Cláudia Mello, Mariana Muniz, Gésio Amadeu
Estréia: quinta, às 20h30
Quando: quarta a sexta, às 20h30; sábados e domingos, às 18h e 20h30
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 011/284-9787)
Entrada: franca (retirar ingressos no teatro uma hora antes do espetáculo)

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